Thais Bilenky / Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Ainda que traga alívio imediato, o acordo da cúpula do PSDB para que o governador paulista, Geraldo Alckmin, assuma a presidência do partido não extinguirá a tensão criada entre alas antagônicas.
No grupo do senador Tasso Jereissati (CE), crítico à aliança com o governo Michel Temer (PMDB), fala-se em um caldo que pode entornar em forma de dissidência caso Alckmin soe leniente com a ala considerada fisiológica.
Ameaças de debandada, feitas por tucanos em picos da crise partidária, podem ser retomadas, apontam tucanos ligados a Tasso. A questão será menos sair ou ficar no governo e mais se o PSDB de 2018 ainda terá ou não a cara de Aécio Neves, dizem eles.
O senador mineiro, afastado da presidência do PSDB desde maio, quando foi tragado pelo escândalo da JBS, fez campanha para o adversário de Tasso na disputa por sua sucessão, o governador de Goiás, Marconi Perillo.
Tasso e Perillo desistiram da eleição interna em favor de Alckmin e agora cobram espaço na Executiva nacional que o governador paulista haverá de compor a partir da convenção de dezembro, se consumada a sua gestão.
A expectativa é que o vice-presidente, e Perillo pleiteia o cargo, assuma o PSDB quando Alckmin se desincompatibilizar para disputar o Palácio do Planalto, em meados do ano que vem.
Haverá resistência. Questionado pela Folha na segunda-feira (28) sobre a composição da nova Executiva e o espaço que será dado ao grupo de Aécio Neves e Marconi Perillo, Tasso disse esperar que "alguns setores não tenham participação nenhuma, ou muito pouca, porque foram responsáveis por essa falta de credibilidade".
O senador cearense agregou em seu entorno cerca de 20 deputados federais, entre eles os cabeças pretas, cinco senadores e governadores como Beto Richa (PR) e Simão Jatene (PA).
Seu aliado, o líder do PSDB na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), defende que o senador Antonio Anastasia (MG), próximo a Aécio, mas elogiado nos diferentes grupos, assuma a vice-presidência. Richa é apontado para a secretaria-geral. Tasso ficaria com o Instituto Teotônio Vilela.
Consensual é que o tesoureiro, peça-chave na eleição presidencial, será indicação do próprio Alckmin, provavelmente Silvio Torres (SP).
DEBANDADA
Ao longo do ano, insatisfeitos de parte a parte negociaram mudanças para outros partidos. Essas conversas arrefeceram, mas não foram encerradas, e podem ser reavivadas caso Alckmin não consiga aplacar ânimos.
"Continua a mesma divisão. Não altera nada. Ninguém sabe onde pode parar", disse o deputado Daniel Coelho (PE). "O ideal era Tasso assumir a presidência, mas agora não é hora de prejulgamento. Alckmin tem liderança para tocar qualquer agenda, questão é saber se vai querer."
O Democratas namorou diversos tucanos ao longo deste ano de crise no PSDB.
O próprio Coelho e outros cabeças pretas (congressistas jovens críticos a Temer) como Pedro Cunha Lima (PB) chegaram a conversar sobre eventual migração.
As tratativas do deputado Rodrigo de Castro (PSDB-MG) foram mais longe, até esbarrarem em Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), preferido do DEM para disputar o governo mineiro. Segundo uma pessoa envolvida, porém, tanto Castro quanto o partido não fecharam as portas.
Da mesma forma, os deputados Marcus Pestana e Paulo Abi-Ackel, ambos aliados de Aécio, conversaram com o DEM em momentos de insatisfação com o PSDB.
Caciques tucanos monitoram esses gestos para procurar evitar uma debandada na janela partidária que será aberta em março.
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