Depois de oito anos no poder, com Fernando Henrique, partido, de imagem social-democrata e tinturas liberais, começou a perder referenciais históricos
Depois de oito anos de poder (1994-2002), dos quais saiu com a imagem sedimentada de um partido social-democrata, de tinturas liberais, responsável por um dos mais exitosos programas de ajuste de que há registro, o Plano Real, o PSDB entrou em crise de identidade.
Perdeu eleições presidenciais consecutivas para o PT. Sem problemas, porque a alternância no poder é parte do jogo democrático. O grave foi, e tem sido, a perda de referências históricas. Um sinal desta confusão de identidade foi quando, ao tentar impedir a reeleição de Lula, em 2006, com o lançamento de Geraldo Alckmin à Presidência, haver tentado vestir um figurino de estatizante, quando deveria usar os sólidos argumentos em defesa do programa de privatização na gestão FH, como o salvamento da telefonia fixa e a explosão dos serviços, também privados, de telefonia celular, uma revolução para a sociedade.
Há pouco, o partido começou a se movimentar para conter séria fratura entre os que queriam se manter no governo Temer, este com sérias avarias no campo da ética, e o grupo dos “cabeças pretas”, tendo à frente o “cabeça branca” Tasso Jereissati, defensor do desembarque do governo, como forma de chegar a 2018 distante da impopularidade peemedebista.
A legenda volta a depender do governador de São Paulo, a ser colocado na presidência do partido para evitar um choque fratricida na convenção de 9 de dezembro, em que Tasso disputaria a presidência da legenda, ocupada interinamente por Alberto Goldman, com o governador Marconi Perillo, de Goiás, apoiado pelo senador mineiro. Costuras conciliatórias como esta, em que o ex-presidente Fernando Henrique cumpriu papel-chave, não bastam, porém, para resgatar o partido como força de primeira grandeza. Os conflitos internos talvez não possam ser remendados com facilidade.
Por uma trapaça do tempo, o partido que surgiu do PMDB há 29 anos, numa reação à falta de ética na política, reencontraria o mesmo PMDB na aliança para sustentar Temer, no impeachment de Dilma, e parte dele se deixaria contaminar por aquele mesmo mal. Ajudar o vice-presidente a governar foi e é o certo; aderir a práticas do “quadrilhão” do PMDB, como aconteceu com Aécio e outros, não. A história, ou pelo menos os propósitos tucanos originais, não comportam traficâncias com os donos da JBS, com empreiteiros ou quaisquer outros empresários.
Alckmin, ele próprio alvo de pedido de abertura de inquérito ao STJ sobre recebimento de dinheiro por fora da Odebrecht, é uma esperança de saída pelo centro, num cenário eleitoral que tende a se radicalizar pelos extremos — o que é ruim para o país.
Mas o partido precisa evitar repetir tibiezas. Não deveria, por exemplo, defender mais flexibilização na reforma da Previdência, já atenuada. Porque isso vai contra seu passado de contribuições importantes dadas à responsabilidade fiscal, conceito crucial para o Brasil. Ainda há tempo, porém, para os tucanos se ajustarem à realidade.
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