Partido desistiu da ideia de barrar alianças regionais com o PT, legenda com o qual rompeu no plano nacional desde o impeachment de Dilma Rousseff; objetivo é se manter como dono das maiores bancadas no Congresso na próxima legislatura
Igor Gadelha e Julia Lindner / O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Sem um candidato próprio à Presidência da República em 2018, o PMDB definiu como prioridade nas eleições do próximo ano a manutenção do seu poder de fogo no Congresso Nacional. Para isso, o partido desistiu da ideia de barrar alianças regionais com petistas e liberou peemedebistas para se coligarem nos Estados com o PT, legenda com o qual rompeu no plano nacional desde o impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em 2016.
A aliança PT-PMDB deve ocorrer em ao menos oito Estados. O objetivo da sigla é se manter como dono das maiores bancadas na Câmara e no Senado na próxima legislatura (2019-2022).
Presidente nacional do PMDB, o senador Romero Jucá (RR) disse ao Estadão/Broadcast que as alianças regionais podem ser feitas com qualquer legenda. "Não há nenhum tipo de proibição. Cada Estado tem uma realidade diferente", disse. O senador admitiu que membros do partido já estão conversando com integrantes do PT nos Estados e avaliou que não há "nenhum problema nisso". Segundo o dirigente, a questão será oficializada na reunião da executiva do partido, ainda sem data definida para ocorrer.
Presidente do Senado e tesoureiro da sigla, Eunício Oliveira (CE) é um dos que devem se aliar a uma chapa petista para se reeleger. Ele já afirmou que apoiará uma eventual candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva no ano que vem e deve fechar aliança com o governador Camilo Santana (PT) no Ceará. “O PMDB é plural. Não tem essa história de não poder fazer aliança com A ou com B”, disse.
Eunício atribui a decisão do partido de liberar alianças à indefinição do PSDB sobre o apoio ao governo de Michel Temer. Segundo Eunício, caso o PMDB não tenha candidatura própria à Presidência da República, “cada um vai procurar o que for melhor na questão estadual e o partido vai ficar livre para fazer coligações”. “Michel não está disputando eleição, então não tem afastamento ou aproximação. O que vai ser definidor vão ser as alianças no Estados. O Estado onde for conveniente fazer aliança com o PSDB, faz; com o PT, faz.”
Além do Ceará, a situação deve se repetir em outros Estados, como Minas. Na semana passada, Jucá se reuniu com deputados federais do PMDB mineiro para anunciar a decisão de liberar as coligações. O presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Adalclever Lopes, que é do partido, também participou do encontro. "O PMDB desistiu da ideia de não coligar com o PT. Nosso objetivo é, no mínimo, manter os seis deputados do partido aqui em Minas e, para isso, a melhor composição é com o PT", afirmou ao Estadão/Broadcast o 1.º vice-presidente da Câmara, deputado Fábio Ramalho (PMDB-MG). No Estado, o atual governador, Fernando Pimentel (PT), tentará a reeleição.
Outros Estados. PMDB e PT também negociam em Estados como Alagoas, Piauí, Sergipe, Tocantins, Paraná e Goiás. No Paraná, Jucá deu aval para o senador Roberto Requião (PMDB) negociar aliança com o PT. Pela negociação, Requião apoiaria o candidato petista ao governo do Estado. Em troca, teria apoio do partido de Lula para garantir sua reeleição ao Senado. "Vamos ter uma renovação brutal. Partidos como eleitorado fidelizado como o PT terão uma vantagem monumental", disse Requião.
Presidente da Fundação Ulysses Guimarães, braço teórico do PMDB, o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência) diz que, por tradição, não faz sentido que o partido restrinja alianças locais. “A decisão de liberar é que, por tradição e cultura, no PMDB, é o comando local que define suas alianças e seu destino eleitoral. Não é como os outros (partidos), que impõem acordos decorrentes de acertos feitos em plano nacional.”
Ao liberar as alianças com o PT, o PMDB quer também evitar debandadas de parlamentares do partido. Pelas contas de Celso Pansera (PMDB-RJ), de dez a 12 deputados federais devem deixar a legenda em março, quando haverá janela para troca de partidos, sem risco de perda do mandato. O próprio Pansera deve ser um deles. Pela estimativa do líder do PMDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), porém, a debandada deve ser menor. “Acho que uns seis deputados devem sair”, disse. Hoje, o PMDB tem 61 deputados e 22 senadores.
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