- Blog do Noblat
A pouco menos de um ano da eleição que vai concluir a transição iniciada com o impeachment e definir os rumos do país pelos próximos quatro anos – com a escolha do próximo presidente da República, governadores, deputados e senadores –, é natural que haja um clima de ansiedade e até preocupação em relação ao futuro. De todo modo, a esta altura do período pré-eleitoral, é preciso ter calma para não se deixar levar por resultados de pesquisas ou atitudes voluntaristas que em nada contribuem para o bom andamento do processo democrático.
Tenho reiterado que o nosso principal compromisso é trabalhar pela construção da unidade das forças democráticas, sobretudo para evitar uma indesejável e nociva polarização entre os extremos do espectro político nas eleições de 2018. De um lado, a esquerda lulopetista que afundou o Brasil na corrupção, desmantelou as instituições e dilapidou o patrimônio nacional, legando ao país a maior recessão de sua história, e que defende ditaduras como a de Nicolás Maduro na Venezuela; de outro, uma extrema-direita autoritária e reacionária, personificada por um líder saudoso da ditadura militar brasileira e das torturas por ela praticadas em tempos de triste memória que tanto infelicitaram a nação. Nenhum deles tem qualquer compromisso com a democracia, a independência entre os Poderes da República, a liberdade de imprensa e o bom funcionamento das instituições.
Em uma quadra tão tumultuada da vida nacional e diante da possibilidade concreta de que se configure tal disjuntiva, é importante ter a consciência de que lançar candidaturas à Presidência da República sem que haja maior preocupação a respeito de sua viabilidade eleitoral ou do acolhimento que teriam junto às outras forças políticas e à sociedade é, sim, um equívoco. Até porque, depois de apresentado um candidato com essas condicionantes em uma disputa presidencial, retirá-lo posteriormente do páreo nunca é uma tarefa simples. Isso pode gerar graves consequências e, via de regra, deixa um profundo impacto até no relacionamento entre os militantes dos próprios partidos. É preciso ter cuidado e evitar atropelos.
Nesse sentido, é evidente que as pesquisas de intenção de voto divulgadas a um ano das eleições pouco ou nada dizem de significativo. Tais sondagens revelam pura e simplesmente a fotografia de um momento ainda incipiente do cenário político e eleitoral, que muito provavelmente terá pouquíssima verossimilhança com o que se apresentará durante a campanha. Esses levantamentos, hoje, trazem apenas o chamado “recall” de eleições anteriores e representam muito mais o nível de conhecimento dos candidatos.
Ainda não se sabe ao certo qual é o mote que presidirá a próxima eleição – se a busca pelo “novo” ou a reafirmação das estruturas partidárias mais tradicionais – e, nesse aspecto, é evidente que as pesquisas podem ser um bom indicativo a orientar os agentes políticos e a sociedade. Mas este é um dado pontual, isolado, que não reúne todos os elementos necessários para que corresponda fidedignamente ao quadro global mais abrangente.
Se observarmos com atenção o que ocorreu nas últimas eleições municipais em todo o país, será possível encontrar inúmeros exemplos de pesquisas que não decifraram com precisão o cenário que se desenhava. Os institutos foram duramente criticados por uma quantidade expressiva de erros em seus levantamentos, quando comparados aos resultados revelados pela apuração final. Um desses exemplos, talvez o mais emblemático, é o pleito na cidade de São Paulo. Em novembro de 2015, a um ano da eleição, o Datafolha apontava o deputado Celso Russomanno isolado na primeira colocação com 34% das intenções de voto – seguido pela senadora Marta Suplicy, pelo apresentador de TV José Luiz Datena (ambos com 13%) e pelo então prefeito Fernando Haddad (12%). Em um dos cenários apresentados, João Doria, do PSDB, surgia apenas com 3%. Ao fim e ao cabo, Datena sequer foi candidato, Russomanno terminou em terceiro, Marta em quarto e Haddad ficou em segundo lugar, bem distante de Doria, que teve uma vitória acachapante no primeiro turno. O fato de o mesmo Russomanno aparecer em primeiro lugar na mais recente pesquisa divulgada pelo Datafolha para o governo do Estado de São Paulo apenas corrobora que cenário algum para 2018 está definido neste momento.
No âmbito nacional, sobretudo no que diz respeito ao ex-presidente Lula, qualquer análise que o aponte como favorito por hoje aparecer à frente nas pesquisas é fruto de ingenuidade, desconhecimento ou mera torcida típica de militante. Será a Justiça a dizer se o petista poderá ou não se candidatar nas próximas eleições, o que depende de uma cada vez mais provável condenação pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de Porto Alegre – que tem confirmado as decisões proferidas em primeira instância pelo juiz Sergio Moro em sua quase totalidade.
Se Lula conseguir se candidatar, o que é altamente improvável neste instante, teremos uma situação estupefaciente até mesmo para os padrões brasileiros: pela primeira vez, um criminoso condenado por corrupção será um dos postulantes ao cargo máximo do país. É verdade que já houve candidatos que encarnavam o triste lema “rouba, mas faz”, mas nunca antes neste país – para usar expressão ao feitio do próprio Lula – um condenado pelo Poder Judiciário esteve habilitado a concorrer em uma eleição presidencial. Quero crer que nossas instituições não se desmoralizariam a tal ponto.
Em meio a tantas indefinições, é forçoso reconhecer que 2018 está próximo e, ao mesmo tempo, muito longe. Há inúmeras variáveis em jogo que ainda não se manifestaram. A economia segue firme no seu processo de retomada, o que indica que o governo exercerá certo protagonismo no pleito, ao contrário do que alguns previam. Independentemente do que venha a acontecer, o mais importante é unirmos todas as forças democráticas em torno de uma candidatura competitiva, representativa de um projeto de país e de um programa de governo, e que também impeça uma disjuntiva entre o lulopetismo e o bolsonarismo, que tanto mal fazem ao Brasil.
Em recente entrevista, o governador Geraldo Alckmin disse que os jornalistas e os políticos são ansiosos por natureza. Ele tem razão. Pois, agora, todos nós devemos ter tranquilidade e trabalhar pensando mais no país do que em nossos próprios interesses. Sábio, o povo fará suas escolhas no momento oportuno. Essa hora ainda não chegou. Há uma longa estrada para 2018. Tanto melhor se caminharmos nela com calma, prudência e responsabilidade.
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Roberto Freire é deputado federal por SP e presidente nacional do PPS
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