Em outubro de 2012, no governo Dilma Rousseff (PT), a taxa de juros do Banco Central, a Selic, atingia o que até então era o menor patamar de sua história.
Elevada à condição de bandeira política do Palácio do Planalto, a marca de 7,25% anuais se manteve, porém, por meros seis meses; a trajetória de alta então iniciada levou a taxa a 14,25% em 2015.
Nesta quarta-feira (6), atingiu-se um novo piso, de 7%, notável para um país onde os juros há décadas destoam dos padrões globais —recorde-se que o mundo desenvolvido ainda vive a era de dinheiro a custo próximo de zero.
De todo modo, abre-se nova chance, que não se pode desperdiçar, de consolidar um ambiente econômico mais saudável.
A situação atual difere substancialmente da verificada há cinco anos. Naquela época, a inflação superava a meta de 4,5% e iniciava uma trajetória de alta, impulsionada pela expansão dos gastos do governo e do crédito concedido pelos bancos federais.
Hoje, em que pese o estado ainda precário da economia e, mais ainda, do Orçamento, o quadro é outro. O crescimento das despesas federais está bloqueado pelo teto inserido na Constituição. Embora o cumprimento desse dispositivo vá depender, mais à frente, da reforma da Previdência, não há risco imediato de descontrole.
Também o crédito estatal mudou de direção. No exemplo mais eloquente, o BNDES está reduzindo desembolsos e subsídios; a expansão dos financiamentos depende da demanda das empresas, não mais do voluntarismo do governo.
A situação do setor privado colabora, igualmente, para juros mais baixos —que precisam chegar ainda ao sistema bancário, onde os percentuais continuam absurdos para empresas e famílias.
Há grande ociosidade nas fábricas e no mercado de trabalho. A queda rápida da inflação neste ano, em que o IPCA deve fechar em 3%, pode dar frutos duradouros.
Se houve ajuda momentânea da queda dos preços dos alimentos, em razão da safra recorde, também se viram melhoras em itens menos voláteis, como os serviços. Tudo isso significa menos pressão sobre os dissídios salariais e a correção de contratos em 2018.
Por isso, o Banco Central manteve a porta aberta para um novo corte da Selic adiante, com a ressalva de que os riscos ainda são elevados. A reconstrução das contas públicas mal começou e depende de uma ampla agenda de reformas.
Frustrações nessa área teriam o potencial de reverter os ganhos recentes e tornar o país mais vulnerável à incerteza política. Os próximos meses, incluindo o período eleitoral, serão decisivos.
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