Para presidente do Tribunal Superior Eleitoral, encontro com Temer foi ‘absolutamente normal’
André de Souza, O Globo
-BRASÍLIA- O ministro Gilmar Mendes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e integrante do Supremo Tribunal Federal (STF), classificou a reunião feita com o presidente Michel Temer, na noite da terça-feira da semana passada, fora da agenda divulgada pelos dois, como absolutamente normal. Segundo ele, foi um conversa na condição de presidentes do TSE e da República, e não de juiz e investigado, para tratar da reforma política.
Como foi marcada esta reunião?
Eu tinha um encontro com o ministro (da Secretaria-Geral) Moreira Franco. Estava na minha agenda inclusive. Nós ficamos de conversar sobre várias questões. Pela manhã tinha tido um debate sobre a reforma política aqui no TSE com 28 representantes de partidos. E a sequência era essa. Nós íamos conversar sobre o que era possível fazer nesse contexto. Mais tarde ele me ligou dizendo que o presidente também iria. Absolutamente normal.
Mas o encontro não estava na agenda dos dois.
A mim me parece que há um certo estresse, um certo nervosismo por parte da própria mídia, e a invenção de um certo protocolo que ela mesmo não segue. Nós recebemos vocês (jornalistas) a toda hora e falamos com vocês independentemente do horário. Então aí me parece que isso é impróprio. E um jogo de jogar suspeita, suspicácia sobre as pessoas. Quem opera mal e obra mal o faz de manhã, de tarde, à noite. Então a mim me parece que isso tem que ser esclarecido. E tem que parar com esse tipo de teoria conspiratória.
Foi o senhor quem convidou Moreira Franco?
Nós conversamos sempre. E ficamos de nos encontrar.
Qual foi o assunto?
Reforma política.
Um caso que poderia ser comparado é se o juiz Sergio Moro recebesse o ex-presidente Lula e o ex-ministro José Dirceu. Isso...
Na verdade, essa comparação é absolutamente imprópria. Nós estamos discutindo aqui, desde o primeiro dia na minha gestão na presidência (do TSE), a reforma política. E temos conversado com todos os atores. Eu não estou aqui pedindo certidão negativa de ninguém, nem posso. Estamos discutindo questões que precisam ser encaminhadas. E cada vez mais o tempo urge, nós estamos aí com a possibilidade da anualidade, precisa ser deliberado até setembro (para a reforma política valer já na próxima eleição, em 2018). Agora, também não veria nenhum problema de o juiz Moro receber o presidente Lula ou José Dirceu.
Seria o contato de um juiz com um investigado.
Isso não se coloca. Eu sou presidente do TSE e tenho que falar, por exemplo, sobre eleições. Agora mesmo realizaríamos as eleições no Amazonas. Precisamos de um crédito adicional de R$ 18 milhões para isso. Com quem eu converso? O presidente não deixa de ser presidente pelo fato de ter uma denúncia oferecida. Como nenhum ministro deixa de ser ministro por esse fato. Vocês também não vão deixar de entrevistá-los. Eu recebi Temer não na condição de alguém que tenha uma denúncia. Eu conversei com ele como chefe de estado, chefe de governo, e eu como presidente do TSE. Foi nessa condição.
Falou sobre sucessão na PGR?
Sim, foi falado sobre isso também.
O senhor fez recomendação para Temer escolher um dos três nomes da lista?
Não. Isso é o presidente que faz. Eu mesmo sou crítico da lista. Eu acho que a lista é uma invenção corporativa. Na verdade, tenho sido crítico desse compromisso que os governos Lula e Dilma assumiram de nomear o primeiro da lista.
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