terça-feira, 4 de julho de 2017

PT prevê protestos se Lula for condenado

Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - A poucos dias - ou horas - da primeira sentença do juiz Sergio Moro em caso que tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como réu, petistas dão ênfase ao discurso de que o Ministério Público não conseguiu provas materiais para sustentar a acusação e prometem mobilizar a militância para uma onda de protestos, caso o magistrado decida pela condenação.

Lula é acusado de ter recebido propina da construtora OAS por meio da reforma de um tríplex num edifício no Guarujá, litoral paulista. A defesa diz que o apartamento nunca pertenceu a Lula e que ele só esteve no local uma vez, quando teria desistido da compra. Os dois lados já apresentaram alegações finais no processo, restando agora só a sentença.

Lula participou ontem de reunião da executiva estadual do PT em São Paulo, com a presença da nova presidente nacional da sigla, a senadora Gleisi Hoffmann (PR). Após o encontro, o presidente estadual do PT, Luiz Marinho, afirmou que uma eventual condenação irá mobilizar a militância automaticamente, "como foi automática e espontânea no episódio da condução coercitiva do presidente". Na ocasião, em março de 2016, houve início de aglomeração ao redor do aeroporto de Congonhas, para onde Lula foi levado.


Conforme Marinho, "até aqui, tudo indica que não há absolutamente nenhuma prova que condene" Lula. Ele afirmou esperar que Moro julgue de acordo com o que está no processo "e não simplesmente com convicção".

"Se ele [Moro] for juiz, vai absolver o presidente Lula. Se vier a condenar, nós vamos evidentemente fazer todo o debate de protesto, de repúdio a uma eventual condenação", disse. "E aí tem as esferas de recurso", completou.

O presidente do PT-SP fez críticas ao Judiciário: "Nossa convicção é muito clara: o Judiciário vem exacerbando em muitas decisões. Fica muito claro que há dois pesos e duas medidas [...]. O afastamento e a prisão do senador Delcídio [do Amaral, sem partido-MS], por exemplo, versus a [não] prisão e o tempo, a agilidade, a rapidez na decisão [de devolver o mandato de senador] de Aécio Neves [PSDB-MG], do [Rodrigo Rocha] Loures [deputado do PMDB-MG, que teve a prisão revogada]. É um processo cada vez mais escandaloso."

O petista chegou a questionar até o afastamento da presidência da Câmara e a prisão de Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos principais rivais do PT. "Pela Constituição, não caberia, por exemplo, talvez sequer a prisão do Eduardo Cunha [...]. Assim como não caberia o impeachment da ex-presidente Dilma [Rousseff]. O Judiciário vem exagerando em algumas decisões. E parece que agora, no meio do caminho, dá marcha à ré para proteger alguns".

O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) foi na mesma linha: "Essa decisão [condenação de Lula], se vier, nós não vamos compreendê-la. Porque não tem nenhuma base jurídica. Eu falo que não é uma teoria da prova. É uma teologia da prova feita pelo [procurador Deltan] Dallagnol".

Lula não falou com a imprensa. Um petista presente relatou que o ex-presidente pediu para os participantes não deixarem de fazer a defesa do PT nas ruas.

Os petistas aproveitaram a reunião para discutir a reorganização do partido em São Paulo e estratégias para 2018. Para desgastar as imagens dos rivais tucanos Geraldo Alckmin e João Doria, governador e prefeito de São Paulo cotados para disputar a eleição presidencial, petistas planejam expor os vínculos da dupla com o presidente Michel Temer, que tem batido recordes de impopularidade.

"O que norteou a reunião é mostrar o quanto o Alckmin e o Doria sustentam o governo Temer", disse Paulo Teixeira. "A sociedade precisa saber dessa sustentação. Estão vinculadíssimos."

Para Teixeira, "o povo percebeu que o governo que está aí, o Michel Temer, é um governo corrupto e que tira direitos". Ele citou pesquisa recente do Datafolha mostrando que aumentou a simpatia do eleitorado por teses mais associadas à esquerda.

Afirmou ainda que os petistas enxergam Doria como possível candidato. "Todo o esforço dele não é na cidade. Ele não faz manutenção, não investe na cidade. Todo o esforço dele é para fora. Então me parece que ele quer ser candidato em 2018", finalizou.

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