“(...) donde a recorrente exigência, à qual não se subtrai nem Gramsci, de atribuir ao Estado o caráter da eticidade. Entre as três teorias tradicionais do Estado – que eram as do Estado-força, do Estado de direito e do Estado-direito -, a ideologia italiana dera preferência à primeira e à terceira, ou seja, conseguira converter de vários modos uma na outra, sendo ambas irredutíveis à segunda, em relação à qual havia sempre demonstrado uma invencível desconfiança.
Não mencionei esses autores e essas teorias por acaso. Quem tiver alguma familiaridade com as obras de Gramsci sabe que uns e outras aparecem em seus escritos. Na filosofia política, não Locke ou Montesquieu, mas Maquiavel, com a correspondente literatura (Croce e Russo. Ercole e Chabod) e os da razão de Estado (Zuccolo, por exemplo). Não Tocqueville ou os escritores políticos americanos e ingleses, mas Hegel e os hegelianos napolitanos. Não falta Treitschke. Na ciência política, Gramsci demonstra ter, como se sabe, um conhecimento direto de Mosca e de Michels, cujas teses critica com alguma aspereza, mas considera, de qualquer modo, dignas de atenção. Reconhece a importância de Max Weber, que começara a ser conhecido mais amplamente através da tradução de Parlamento e governo na Alemanha reordenada, por obra do mesmo tradutor da Política de Treitschke, Enrico Ruta.”
--------------------------
Norberto Bobbio (18/10/1909-9/1/2004), ‘Ensaio sobre Gramsci e o conceito de sociedade civil’. p.88, 2ª edição, Editora Paz e Terra, 2002.
Nenhum comentário:
Postar um comentário