O ex-presidente Sebastián Piñera, da coligação Chile Vamos, tem 40% das intenções de voto; aliança de centro-esquerda tem dois candidatos
Caio Sartori, Especial para O Estado, O Estado de S.Paulo
Com a base governista da presidente Michelle Bachelet dividida, a direita é favorita para voltar ao poder no Chile, em eleição no domingo. O ex-presidente Sebastián Piñera, da coligação Chile Vamos, aparece na liderança com 44,4% das intenções de voto, segundo pesquisa do instituto CEP.
A Nova Maioria, coligação de partidos de centro-esquerda e centro, que dá sustentação ao governo, está dividida em duas candidaturas: a do senador independente Alejandro Guillier, mais à esquerda no espectro político e segundo colocado nas pesquisas, e a da democrata-cristã Carolina Goic, em quinto lugar.
“Naturalmente, Guillier seria mais competitivo se Goic não estivesse na disputa. Mas o problema dele não é só a fragmentação da Nova Maioria. O problema de Guillier é que sua candidatura não embalou porque ele é um líder pouco carismático”, aponta o cientista político Patricio Navia, das universidades Diego Portales, em Santiago, e de Nova York.
Na terceira posição, a jornalista Beatriz Sánchez, da novata Frente Ampla, atrai o eleitorado que exige propostas mais à esquerda do que as da Nova Maioria. A tendência, caso ocorra um segundo turno, é que Guillier e Sánchez apoiem quem dos dois for escolhido para enfrentar Piñera. O mesmo vale para o quarto colocado, Marco Enríquez-Ominami, outro nome da esquerda dividida.
O milionário ex-presidente tende a receber os votos do candidato José Antonio Kast – faceta chilena da nova extrema direita mundial, que elogia o ex-ditador Augusto Pinochet, cujo regime (1973-1990) matou mais de 3 mil pessoas e torturou cerca de 40 mil, segundo o último levantamento. Ele aparece com 5% das intenções de voto nas pesquisas.
Para Navia, não há muitas dúvidas sobre a transferência de votos num eventual segundo turno. Todos, tirando José Antonio Kast, devem migrar para o adversário de Piñera. Dessa forma, a grande questão seria a soma dos votos obtidos pelos dois candidatos da direita. “Se superar os 50%, Piñera terá o caminho fácil para ganhar. Mas, se as votações dos candidatos de direita ficarem abaixo dos 45%, o segundo turno será uma disputa aberta entre Piñera e o candidato da esquerda.”
A possibilidade de vitória de Piñera no primeiro turno não está descartada, mas é difícil: pode ocorrer caso os eleitores dos candidatos à direita (Kast) e ao centro (Goic) migrem em sua direção.
Caso o empresário Sebastián Piñera vença e complete o mandato, o Chile terá passado por 16 anos sob os comandos alternados do empresário (2010-2014) e de Bachelet (2006-2010 e 2014-2018). Ao chegar em 2022 com este cenário, o período Bachelet-Piñera representaria metade do tempo de vida da jovem democracia chilena, reinstaurada em 1990, após a violenta ditadura de Augusto Pinochet. O Chile não permite a reeleição imediata.
As pesquisas mostram que o índice de abstenção deve chegar perto dos 50%. Apesar de a notícia soar negativa, o analista Patricio Navia vê nela um lado bom. “A participação sempre aumenta quando há crise política. Por isso, ainda que fosse bom ver uma participação maior, ao menos sabemos que o país não está em crise.”
Já a popularidade de Bachelet, apesar de breve recuperação, caiu em meados de 2016, quando um escândalo de tráfico de influência afetou seu filho e sua nora. Apesar de não estar diretamente envolvida, a presidente foi atrelada a casos de corrupção.
Avanços. A aprovação dela, que hoje está em 23%, chegou a 15%, em julho do ano passado. “Apesar de ter implementado reformas que eram populares ( educacional, da previdência e legalização do aborto em casos de estupro, risco ou má-formação), as pessoas rechaçam a forma como elas foram implementadas”, afirma Navia.
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