A indústria cresceu 2,5% em 2017, após três anos seguidos de queda. O aumento da produção industrial está longe de compensar a perda de 16,7% acumulada desde 2014, mas é sinal positivo para a economia. O ano terminou ainda melhor do que o balanço dos doze meses sugere. O ritmo acelerou no segundo semestre, com crescimento de 3,2% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período de 2016; e de 4,9% no quarto trimestre, na mesma base de comparação calculada pelo IBGE.
A recuperação foi disseminada. Os bens de consumo duráveis puxaram a reviravolta, com aumento de 13,3% em 2017, que chegou a 17,8% no quarto trimestre frente a igual período do ano anterior. Liderou o movimento a indústria automobilística, cuja produção saltou 20,1%, animada pelas exportações e pelo consumo interno, seguida por equipamentos de transporte, móveis e eletrodomésticos.
Os bens de capital vieram em seguida, com expansão de 6% no ano e aceleração de 10,7% no último trimestre, que começou com o aumento da demanda pelos equipamentos para a agricultura na virada de 2016 até meados de 2017. A reação dos bens de capital, sustentada por oito meses seguidos de crescimento, foi muito comemorada por indicar a retomada gradual do investimento em máquinas e equipamentos, com repercussões positivas em outros pontos da cadeia econômica.
O ramo de bens intermediários cresceu ao longo do ano todo, chegando a 3,9% no quarto trimestre, puxado por defensivos agrícolas e produtos intermediários da metalurgia e veículos, com aumento de 1,6% no ano. Por último, com desempenho mais comedido, ficaram bens de consumo semiduráveis e não duráveis, que tiveram declínio de abril a junho, reagiram no último trimestre com aumento de 2,8%, e fecharam o ano com 0,9% de expansão.
Vários fatores contribuíram para a expansão da indústria. O primeiro foi a supersafra agrícola, que aqueceu a demanda por bens de capital, máquinas e equipamentos, e animou a demanda do setor por bens em geral. O aumento das exportações também ajudou a estimular a produção. Outro impulso considerável veio da liberação dos recursos do FGTS, que ativou o consumo, reforçado pelo aumento da renda real proporcionado pelo recuo da inflação, pela queda dos juros e pela oferta de crédito para as famílias.
A expectativa é que a recuperação da indústria continue e até ganhe mais vitalidade. Afinal, a produção ainda está 14% abaixo do pico de junho de 2013. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) prevê crescimento de 3% neste ano, sustentado pela retomada da economia e pelo emprego. Há uma interação entre esses fatores. Se a expansão do emprego abre espaço para o aumento do consumo, a da indústria incentiva a criação de postos de trabalho de melhor qualidade.
Reforçam as previsões otimistas alguns indicadores colhidos pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). O Índice de Confiança do Empresário da Indústria de Transformação da CNI (ICEI) atingiu em dezembro a melhor marca de 2017 e o nível mais elevado desde fevereiro de 2013. Em janeiro, houve um novo avanço, o maior patamar desde março de 2011, resultado não apenas da melhora das expectativas para o futuro, mas também de uma avaliação positiva das condições atuais dos negócios.
É verdade que há indicadores que sugerem cautela. Um deles é o nível dos estoques de produtos finais da indústria que, pela Sondagem Industrial da CNI, mostrou redução no caso da indústria da transformação, mas ainda está elevado na extrativa. O nível de utilização da capacidade instalada da indústria ainda está em níveis historicamente baixos, o que indica uma volta lenta dos investimentos. Máquinas e equipamentos ociosos serão postos em funcionamento antes de os empresários pensarem em ampliar a capacidade de produção. Em contrapartida, a produção pode crescer sem pressões inflacionárias.
Outras dúvidas em relação ao ritmo da recuperação são as eleições, a disposição do setor financeiro privado de preencher o espaço do BNDES na oferta de crédito e ainda o investimento em tecnologia. No balanço geral, os dados indicam melhora do quadro em relação ao final do ano passado, apesar de ainda longe dos níveis de pré-crise.
Nenhum comentário:
Postar um comentário