Ex-marqueteiro do PT depõe a Moro em ação penal relativa a sítio em Atibaia
Luiz Vassallo, Julia Affonso, Ricardo Brandt / O Estado de S. Paulo.
João Santana reafirmou ao juiz Sérgio Moro que recebia, no exterior, pelos serviços prestados às campanhas do ex-presidente Lula.
O ex-marqueteiro do PT João Santana reafirmou ontem ao juiz Sérgio Moro que recebia pelos serviços prestados às campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por meio de caixa 2 depositado em uma conta no exterior pela Odebrecht. Santana e sua mulher e sócia, Mônica Moura, foram ouvidos pelo juiz na ação penal que envolve o sítio Santa Bárbara, em Atibaia.
Santana relatou novamente o episódio em que teria pedido ao empresário Emílio Odebrecht, patriarca do grupo, financiamento para evitar que se esgotassem os recursos de uma campanha feita em El Salvador, em 2009. A solicitação foi feita por telefone a Emílio após indicação de Lula, em reunião no Planalto, segundo afirmou o ex-marqueteiro do PT.
A denúncia relativa ao sítio em Atibaia é a terceira acusação formal contra Lula na Lava Jato. Segundo o Ministério Público Federal, Odebrecht, OAS, Schahin e o pecuarista José Carlos Bumlai gastaram R$ 1,02 milhão em obras na propriedade em troca de contratos com a Petrobrás. O petista e mais 13 viraram réus em agosto do ano passado. Os interrogatórios de Santana, Mônica e do ex-gerente da Petrobrás Eduardo Musa – também ouvido ontem – foram os primeiros desta ação penal, que está em fase de instrução (coleta e confirmação de provas). A força-tarefa sustenta que o sítio é de Lula. O petista nega.
Doações. Segundo Santana, ele voltou a trabalhar em campanhas petistas em 2006, quando Lula tentava a reeleição. Ele disse ter conversado, inicialmente, com o então ministro Antonio Palocci sobre a possibilidade de receber por meio de doações registradas o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Quando estava negociando o contrato, eu falei com Antonio Palocci, que, tendo em vista a crise que eles tinham vivido por financiamento ilegal de campanha, era fundamental que essa campanha não tivesse nenhum tipo de caixa 2. Ele concordou na primeira conversa, mas, no decorrer (da negociação), começou a dizer que teria dificuldade de se cumprir tudo oficialmente”, disse Santana.
Palocci então afirmou que havia “uma forma segura de recebimento da parte não oficial” e sugeriu a participação da Odebrecht, conforme Santana. A contabilidade, disse, ficou a cargo de sua mulher, que já admitiu ter feito uso de uma conta na Suíça para receber repasses da empreiteira.
“Nesta eleição nós já recebemos uma parte oficial e uma parte de caixa 2. A Odebrecht pagou essa parte em caixa 2. Pagou uma parte no Brasil e uma parte em conta no exterior. Daí por diante, todas as campanhas que fizemos, não só para o PT, tivemos este tipo de pagamento”, afirmou Santana.
‘Improcedente’. O advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou que os depoimentos “deixaram claro” que a acusação do Ministério Público é “improcedente”. “A denúncia faz referência a nove contratos da Petrobrás e a reformas em um sítio. Nenhuma das testemunhas confirmou a acusação.” A defesa de Palocci não foi localizada. A Odebrecht disse colaborar com a Justiça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário