- Valor Econômico
Eleição sem dinheiro privado é desafio para os candidatos
Disputar a Presidência da República ficou menos atraente e mais difícil para os partidos políticos, graças às novas regras de financiamento e à redução do tempo de campanha aprovadas na reforma política. O Democratas, para citar um exemplo, tem um candidato que alia juventude e um discurso moderno, mas vai ter que pensar duas vezes antes de se atirar na aventura de conquistar o Palácio do Planalto.
Um gigante nos dois governos de Fernando Henrique Cardoso, o DEM perdeu espaço, ao longo dos governos do PT, e na eleição de 2014 elegeu apenas 21 deputados federais. Ficou abaixo de outras legendas médias como o PR (34) e o PSD, com 36 deputados
O tamanho da bancada eleita é o critério para a divisão dos recursos do fundo eleitoral, criado para substituir o financiamento privado, proibido por uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). O total do bolo eleitoral é estimado em R$ 1,7 bilhão. Desse total, a fatia correspondente ao DEM deve ficar em torno de R$ 90 milhões.
"Essa é uma realidade que os partidos terão que enfrentar logo, logo: ou arriscam a Presidência, o que é muito bonito, ou tentam garantir a longevidade". Ou seja, se os partidos apostarem na Presidência da República, terão de assumir o risco de eleger uma bancada menor de deputados - e consequentemente contar com menos recursos para 2022.
Cita-se o DEM para mostrar o dilema de um partido médio que tem um pré-candidato a presidente da República, Rodrigo Maia (RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Embora na casa do 1% nas pesquisas, Maia acha que só por volta de abril o quadro eleitoral ficará mais claro e que o eleitorado ainda não traçou o perfil do candidato no qual pretende votar em outubro.
O atual quadro de incertezas, na opinião de Maia, é natural sobretudo em campanhas sem a reeleição. Ele se lembra de que, em 2002, o ex-presidente Lula começou o ano liderando as pesquisas eleitorais, não tardou a ser substituído pela então governadora do Maranhão, Roseana Sarney, e em agosto Ciro Gomes estava no lugar mais alto do pódio. E Lula ganhou a eleição.
As pesquisas encomendadas pelo próprio Maia têm boas indicações. A sua imagem negativa é menor que de todos os demais, em compensação a grande maioria não ouviu falar dele ou simplesmente não soube opinar. Seu partido, o DEM, não está em os campeões da má avaliação, categoria na qual despontam os partidões - PT, PMDB e PSDB.
A menos que Rodrigo Maia dê um salto impensável nas pesquisas, o mais certo é que o DEM, no momento adequado, faça a aposta na eleição de uma grande bancada, sacrificando a eleição presidencial. O próprio Maia é um candidato a deputado sob medida para ajudar o DEM a eleger uma grande bancada no Rio. Pensando mais à frente, se o DEM fizer uma das maiores bancadas da Câmara, Rodrigo Maia pode pensar seriamente numa reeleição para a presidência da Casa.
Um dos primeiros dirigentes partidários a registrar as consequências da mudança no financiamento de campanha, em conversa com a coluna, diz agora, ainda com mais convicção: na hora certa os partidos vão fazer as suas apostas naquelas candidaturas com perspectivas de êxito. O que serve para governador, senador e deputados (federal e estadual), mas também para presidente.
Na eleição presidencial de 2014, com financiamento privado, Dilma Rousseff gastou no oficial cerca de R$ 250 milhões. Aécio Neves (PSDB) não ficou muito atrás. Para 2018, o partido que mais deve receber do fundo eleitoral é o MDB (aproximadamente R$ 245 milhões), seguido do PT (cerca de R$ 206 milhões) - o PSDB vem mais atrás, com algo em torno de R$ 175 milhões (o TSE vai fixar os valores exatos).
A tradição do MDB é concentrar esforços na manutenção do poder regional. E é forte a pressão para a manutenção do status quo - mais governadores, mais senadores, mais deputados. A diferença, desta vez, é que o partido tem o presidente e não descarta concorrer à reeleição. Dono da maior fatia do fundo eleitoral e do segundo maior tempo de televisão, em cada bloco (1min15,5s), o PMDB é um objeto de cobiça dos outsiders e de pré-candidatos de outras siglas sem a devida retaguarda partidária. Mas também ele analisa, no momento, a melhor relação custo-benefício.
Ainda agora há quem pense no Palácio do Planalto numa aliança de centro-direita juntando MDB, DEM, PR e PP, entre outros menos cotados, para apresentar um candidato a presidente. Mas os três últimos cada dia mais demonstram querer distância do MDB, especialmente o DEM. E o PR e o PP já fizeram sua opção: a prioridade é eleger bancada e garantir mais recursos do fundo eleitoral e tempo de televisão no horário gratuito.
Essa também é uma opção que em algum momento devem fazer os partidos pequenos e seus candidatos PCdoB (Manuela D'Ávila), Rede (Marina Silva), e PSL (Jair Bolsonaro) e talvez o Psol com Guilherme Boulos. Provavelmente nunca esses partidos tiveram tantos recursos para a eleição (eram quase ignorados pelas empresas), mas também eles terão que optar entre a longevidade (nesta eleição haverá cláusula de barreira) ou entrar na disputa presidencial apenas para marcar presença. Na TV mal terão tempo para dizer "Meu nome é Enéas".
Nos longos anos em que estiveram na oposição, o que segurou os tucanos foram os governos estaduais de São Paulo, Paraná e Minas Gerais (que perderam em 2014). Para manter Estados importantes, eleger bancada e reconquistar a Presidência o PSDB terá cerca de R$ 175 milhões e vai precisar de muita criatividade para aproveitar bem os recursos disponíveis. E atrair om maior número de partidos possível para a coligação partidária, pois o tempo de TV do PSDB, em outubro, será de apenas 1min18,5s.
Até o PT com seus 1min35,7s de TV e R$ 205 milhões de fundo quebra a cabeça para ver como faz para eleger uma grande bancada. O fracasso eleitoral de 2016 é um alerta.
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