Presidente da Câmara será indicado nesta quinta-feira, 8, pelo partido como candidato à sucessão de Michel Temer; iniciativa, porém, é vista com desconfiança até por aliados
Isadora Peron e Igor Gadelha | O Estado de S.Paulo
BRASÍLIA - Aliado histórico do PSDB e na base aliada do presidente Michel Temer, o DEM decidiu se afastar do governo e dos tucanos numa tentativa de viabilizar a candidatura do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), ao Palácio do Planalto. O nome de Maia será lançado nesta quinta-feira, 8, na disputa, durante convenção nacional do partido, em Brasília. Com menos de 1% nas pesquisas de intenção de voto, a candidatura de Maia, porém, é vista com desconfiança até por aliados, que a interpretam como uma tentativa de o partido se cacifar nas negociações eleitorais.
O prazo dado para que o presidente da Câmara consiga se tornar um candidato viável é junho, quando os partidos têm de realizar as convenções para oficializar os nomes que entrarão na corrida eleitoral.
Nesta quarta-feira, 7, na véspera da convenção, Maia fez críticas ao PSDB e ao pré-candidato tucano, Geraldo Alckmin. “Ele é um bom governador. Mas a rejeição do PSDB é hoje maior que a do PT, e isso está contaminando a imagem dele”, disse em entrevista à Rádio Eldorado.
Segundo um interlocutor do presidente da Câmara, ele teve de aumentar o tom contra o PSDB após seu pai, o vereador pelo Rio Cesar Maia, dizer publicamente que não acreditava na candidatura dele à Presidência e que a sua aposta era Alckmin.
Entre os tucanos, a ordem foi não aumentar a polêmica com Maia para não dificultar uma reaproximação futura. O próprio Alckmin afirmou nesta quarta-feira, em Washington (EUA), que respeitava a decisão do DEM de lançar candidato ao Planalto e que era legítima a aspiração da legenda. Ele lembrou que o DEM é velho aliado do PSDB e que as duas siglas podem se unir num eventual segundo turno da disputa.
Nomes do PSDB, no entanto, admitiram que o posicionamento do presidente da Câmara causou desconforto. “Essas declarações podem dificultar a aproximação. São um impulso dele para abrir espaço, mas tem muita gente no DEM com mais temperança. Não é um bom caminho. É inócuo”, disse o presidente do Instituto Teotônio Vilela (ITV), José Aníbal.
Já o distanciamento do DEM em relação ao governo do presidente Michel Temer foi explicitado pelo prefeito de Salvador, ACM Neto, que assume nesta quinta-feira a presidência nacional do partido. “Não vamos aceitar que a candidatura de Rodrigo seja carimbada como candidatura de governo. Como o partido apoiou o impeachment, sentiu-se comprometido com esse momento de transição, com essa agenda que precisava ser colocada na pauta, sobretudo a agenda econômica”, disse ao Estado.
Apesar das declarações, integrantes do DEM reconhecem que o afastamento tanto do governo quanto do PSDB é temporário. Uma eventual aliança no futuro, caso a candidatura do presidente da Câmara não decole, está no radar da sigla.
Manifesto. Para embalar a candidatura de Maia à Presidência, o DEM também vai divulgar nesta quinta-feira um manifesto no qual lista suas prioridades na área econômica e social para o País. A reforma da Previdência, uma das principais bandeiras de Maia até aqui, ficou de fora do texto.
O documento, intitulado “O Brasil que vai dar certo”, critica o PT, não faz nenhuma menção ao governo Temer e classifica o partido como “centro democrático”, deixando para trás a roupagem de direita que acompanhou o DEM desde que a legenda se chamava PFL.
No texto, a sigla afirma ainda que rejeita extremismos, radicalismos, demagogia e populismo, “venham de onde vierem”, e que acredita num sistema “liberal e humanista, baseado na igualdade de oportunidades”, cabendo ao Estado ter um papel regulatório e incentivador, desde que não “sufoque” esforços individuais e empresariais.
Recall. Para o professor Rodrigo Augusto Prando, pesquisador do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Maia “busca, ainda que suas intenções de voto sejam pífias, cacifar-se para a corrida eleitoral”. “Rodrigo Maia almeja o Planalto, mas pode, no fundo, desejar o governo do Rio de Janeiro ou uma reeleição para a Câmara bem expressiva, dando a ele um maior recall para futuras disputas”, disse o professor.
Segundo Prando, ao afirmar que a polarização entre PT e PSDB não pode continuar, Maia quer, assim, apresentar-se como uma “terceira via”. “Mas essa imagem não colará, ideologicamente, no candidato do DEM, que sempre esteve mais alinhado aos postulados tucanos. Arrisco-me a crer que o DEM e Maia estarão, já no primeiro turno, no palanque do candidato do PSDB, provavelmente de Alckmin”, disse o professor. / Colaboraram Pedro Venceslau, Adriana Ferraz e Cláudia Trevisan
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