- Valor Econômico
Ciro e Alckmin armam-se para polarizar a eleição
Apenas cinco anos separam seu nascimento em Pindamonhangaba. Um avança sobre as bases do petismo, o outro, sobre as do governismo. Nenhum dos dois encontrou o caminho para contornar os altos índices de rejeição que os iguala, mas ambos cuidam de garantir os palanques e a estrutura partidária que lhes possibilite por em curso uma campanha capaz de revertê-los. Se estratégia bastasse, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) hoje seriam os mais sérios candidatos a polarizar o voto do eleitor em 28 de outubro.
Como as bases do petismo e do governismo se confundiram ao longo dos últimos 15 anos, esbarram-se na montagem dos palanques. Na sexta-feira, Ciro pôs uma braçada à frente na tentativa de conquistar o maior aliado do PT no campo da esquerda, o PSB, partido com o qual Alckmin sonhou ao longo dos últimos quatro anos.
O partido que Alckmin tentou atrair a partir de 2010 com a vaga de vice, aprovou uma resolução que inviabiliza a nacionalização da aliança. A decisão do partido foi a de vetar alianças com candidatos de fora de seu campo ideológico.
O PSB ainda prefere uma candidatura própria, mas se mantém dividido em relação ao único nome que daria competitividade eleitoral ao partido, o ex-ministro Joaquim Barbosa. Sobrariam Marina Silva (Rede) e Ciro. Ambos já foram filiados ao PSB, mas o ex-ministro tem mais chances de atrair o partido que um dia lhe fechou as portas. Em 2010 Ciro foi impedido por Eduardo Campos de disputar contra a então ministra Dilma Rousseff. Ciro sairia do PSB e, em 2014, o próprio governador de Pernambuco encabeçaria a chapa do partido contra a ex-presidente com Marina por vice.
No comando do Estado de São Paulo a partir de abril, o PSB aposta na reeleição de Márcio França. O atual vice-governador recuou das articulações para tentar levar seu partido para o palanque de Alckmin quando ficou claro que o governador não conseguiria dobrar os tucanos e emplacar França como seu candidato em São Paulo.
O vice-governador de São Paulo passa a ser estratégico na disputa pelo espólio da base partidária que gravita em torno do governo federal desde 2003. Como informou Daniel Rittner (Valor, 2 de março), França já assegurou ao PR do onipresente Valdemar Costa Neto, a Secretaria de Logística e Transportes do Estado a partir de abril. O PR, que do mensalão para o petrolão, foi agraciado com o Ministério dos Transportes, passará a acumular o primeiro e segundo maiores orçamentos do país no setor. Uma aliança do PSB com Ciro também deixaria o PR mais próximo da chapa do PDT.
A queda de braço entre Ciro e Alckmin não se restringe ao Centrão. Depois de ser considerado candidato imbatível do agronegócio, Alckmin viu parte do setor se bandear para o deputado Jair Bolsonaro e assiste agora ao PDT de Ciro Gomes anunciar a filiação da senadora Kátia Abreu. Ex-presidente da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária e uma das maiores aliadas da ex-presidente Dilma Rousseff, Kátia Abreu deve se filiar ao PDT para disputar o governo do Tocantins.
O PDT terá dez candidatos próprios aos governos estaduais, entre os quais Amazonino Mendes, vencedor da eleição extraordinária no Amazonas no ano passado. A disputa marcou a era da alienação eleitoral pelo recorde de votos em branco, nulos e abstenção. Em boa parte dos demais Estados, apoiará petistas, como Jorge Viana (Acre), Wellington Dias (Piauí) e Rui Costa (Bahia) ou tradicionais aliados do petismo, como Flávio Dino (PCdoB), no Maranhão. No segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais, ainda está dividido entre o palanque do governador Fernando Pimentel (PT) e do ex-prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda (PSB).
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva bombardeou publicamente a aproximação que, intramuros, incentivou entre Ciro e o ex-prefeito Fernando Haddad. Depois do revés da segunda decisão colegiada por unanimidade, Lula não dá sinais de que vai recuar para, no último minuto da prorrogação, tentar transferir seus votos de perseguido da Justiça para o ungido. Ciro acelera a formação de palanques para que a decisão petista já o alcance com um volume de campanha capaz de relativizar o potencial de transferência de voto de Lula e trincar o velho discurso cansado de guerra da hegemonia petista da esquerda.
De cada dez compromissos de campanha de Ciro, cinco são cumpridos em universidades. Pauta-se pela velha premissa brizolista de que a conquista da juventude precede a do eleitor, ainda que sejam cada vez mais escassos os militantes que ainda trabalham de graça. Já esteve na Fiesp e na próxima semana vai à Associação Comercial do Rio e à principal câmara de comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham). O candidato tem mantido distância regulamentar do mercado financeiro ainda que não se conheçam, de sua gestão como ministro da Fazenda, atos que tenham afetado pregões. Cultivará a distância necessária para manter o discurso de candidato intolerante aos juros e aos lucros deste mercado.
Se o desafio de Ciro, que lança hoje sua pré-candidatura, é montar uma campanha capaz de formatá-lo como herdeiro dos votos de um candidato inviabilizado, o de Alckmin é o de se mostrar como a única alternativa viável de um campo político hoje liderado por um outro nome.
A intervenção militar no Rio, principal cartada do governismo nesta eleição, mostrou-se incapaz de tirar do chão uma eventual candidatura do presidente Michel Temer à reeleição. Nos cenários testados pela CNT-MDA, passadas duas semanas de uma intervenção aprovada pela população, o presidente varia de 0,4% a 1,3% das intenções de voto. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não foi testado, mas o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, teve um desempenho ainda inferior ao de Temer.
Equiparado a Ciro nas pesquisas de intenção de voto, Alckmin tende a ser menos beneficiado pela provável saída de Lula de cena. E, ao contrário do candidato do PDT, não conta com o Judiciário para tirar do jogo o principal adversário de seu campo político. Vai precisar mais do que bons palanques para esvaziar a artilharia de Jair Bolsonaro.
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