Relatório do Banco Mundial mostra que 25 milhões de brasileiros entre 19 e 25 anos não trabalham nem estudam ou frequentam a escola com atraso e estão vulneráveis à pobreza
Lu Aiko Otta | O Estado de S. Paulo.
BRASÍLIA - Mais da metade dos jovens brasileiros entre 19 e 25 anos tem o futuro profissional ameaçado e, com isso, está mais vulnerável à pobreza. É o que mostra relatório do Banco Mundial, divulgado ontem. O documento inclui entre os 25 milhões de pessoas em risco de ficar fora do circuito de bons empregos os 11 milhões de “nem-nem”, aqueles que nem trabalham nem estudam; os que frequentam a escola, mas com atraso na formação, e os que trabalham na informalidade.
Além do futuro dos jovens, o problema coloca em risco o crescimento da economia, porque o País vai depender do trabalho deles para continuar produzindo. O relatório lista medidas que podem ser adotadas para reverter a situação: elas vão desde programas para reduzir a gravidez na adolescência até a criação de um piso salarial menor para incentivar o primeiro emprego. O estudo do Banco Mundial também aponta que 6 milhões de brasileiros poderiam sair da linha da pobreza e o Produto Interno Bruto (PIB) teria um incremento de 1% se o País abrisse mais a economia e incentivasse a realização de reformas.
Mais da metade dos jovens brasileiros com idade entre 19 e 25 anos corre o risco de ficar fora do circuito de bons empregos no País e, com isso, está mais vulnerável à pobreza. É o que aponta um relatório divulgado ontem pelo Banco Mundial.
O documento diz que 52% da população jovem brasileira, quase 25 milhões de pessoas, está “desengajada” da economia. Nessa conta, estão os 11 milhões dos chamados “nemnem”, aqueles que nem trabalham, nem estudam. A eles, foram somados aqueles que estão estudando, mas com atraso em sua formação. E os que trabalham, mas estão na informalidade. “É uma população que vai ser vulnerável, vai ter mais dificuldade de achar emprego, corre maior risco de cair na pobreza”, disse o diretor da instituição para o Brasil, Martin Raiser.
Além da ameaça ao futuro desses jovens, essa situação leva a outra consequência séria: ela coloca em risco o crescimento da economia brasileira. Isso porque o País vai depender do trabalho deles para continuar produzindo. Mais ainda, vai precisar que eles sejam mais produtivos do que seus pais para reverter uma tendência de queda na taxa de crescimento do Brasil.
“Precisamos de uma educação de qualidade que cumpra sua missão de dar competência aos jovens”, disse a economista do Banco Mundial Rita Almeida, uma das responsáveis pela elaboração do relatório “Competências e Empregos: Uma Agenda para a Juventude”.
Entre as ideias trazidas pela instituição no documento, está a criação de programas para redução da gravidez na adolescência. Os programas de transferência de renda poderiam ser direcionados para estimular a conclusão do ensino médio. Além disso, seria necessário informar melhor os jovens sobre os retornos financeiros do estudo.
Rita avalia que a reforma do Ensino Médio de 2017 atacou alguns pontos críticos, mas deixou em pé um grande problema: as políticas públicas para o mercado de trabalho hoje protegem os trabalhadores que já estão empregados e que têm mais experiência. O salário mínimo é um exemplo.
“Há evidências internacionais que o salário mínimo mais alto afeta principalmente os jovens”, afirmou. Com o piso elevado, empresas optam por contratar trabalhadores mais experientes. Um estudo citado pelo relatório diz que, para cada 10% de aumento do salário mínimo, o emprego para jovens recua 3,8%.
Uma ideia que consta do relatório é a criação de outro piso salarial, menor, para facilitar o primeiro emprego. Outra sugestão é rever a política de reajuste do mínimo, que desde 2003 tem crescido acima dos aumentos de produtividade da economia brasileira. Em momentos de crise, esse torna-se um fator a mais a pressionar pelo desemprego.
O relatório sugere ainda melhorar a intermediação de emprego, feita pelo Sistema Nacional de Emprego (Sine), e criar mais programas de capacitação. Diz, também, que as parcelas do seguro-desemprego deveriam ser decrescentes ao longo do tempo de forma a pressionar o trabalhador a buscar uma nova colocação.
Repetindo uma ideia que constou de outro relatório do organismo, chamado “Um ajuste justo”, a proposta é que o seguro-desemprego só possa ser acessado quando e se o trabalhador desempregado utilizar todo seu saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Os recursos do fundo não seriam liberados de uma só vez, como hoje, mas sim em parcelas.
A política de abono salarial é outro mecanismo que, na visão dos economistas do Banco Mundial, deveria ser reformulado. O abono representa uma renda adicional para os trabalhadores que estão com emprego formal há cinco anos. O dinheiro poderia, em vez disso, ser usado para estimular a contratação de pessoas que estão desempregadas.
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