Movimento multiplica exigências, e segunda tentativa de acordo com governo fracassa
- O Globo
-RIO, SÃO PAULO E BRASÍLIA- Após duas tentativas frustradas de acordo do governo com os caminhoneiros, o movimento da categoria chegou ontem ao oitavo dia, sem sinal de fim da paralisação. Em todo o Brasil, os transtornos à população ainda são graves, com filas de mais de cinco horas para abastecer o tanque nas cidades que começaram a receber combustível nos postos. Ainda assim, o país ainda registrava na noite de ontem 494 pontos de aglomeração de manifestantes. Não há garantia de que os termos do acerto serão cumpridos pelos caminhoneiros, mas uma coisa é certa: o governo já avalia aumentar impostos para compensar os benefícios concedidos à categoria.
Enquanto os problemas de abastecimento ainda parecem longe de uma solução, as demandas dos caminhoneiros se multiplicam. Ontem, em reunião com o governador de São Paulo, Márcio França, exigiram que o desconto de R$ 0,46 no preço do diesel leve em conta a cotação do último sábado e que o preço mínimo de frete seja definido para cada categoria. Somente com base nestas novas exigências, eles se comprometeriam a encerrar os bloqueios nas estradas.
A multiplicação de demandas desde o início do movimento e a dificuldade das associações em convencer os caminhoneiros a darem fim à paralisação mostram que os protestos atingiram uma nova escala. As entidades do setor não conseguem desmobilizar a categoria, que se comunica basicamente por WhatsApp.
Nas rodovias ainda bloqueadas, as exigências crescem cada vez mais. Na agenda de insatisfações dos manifestantes, há desde pedidos para que o combustível seja fixado em R$ 2,50 na bomba até apelos por uma intervenção militar e gritos de “Fora, Temer”. Apesar das perdas relatadas por empresários do setor, nas ruas, os caminhoneiros afirmam que não estão sendo pressionados a voltar ao trabalho.
GOVERNO VÊ ‘INFILTRADOS’ EM MOVIMENTO
A Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam), uma das principais porta-vozes dos grevistas, avalia que os que permanecem em greve são ligados a partidos políticos que querem derrubar o governo. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, já afirma que há “infiltrados” entre os manifestantes.
As suspeitas de que o movimento tenha sido insuflado por empresários, o chamado locaute — greve de patrões — já resultaram na abertura de 48 inquéritos da Polícia Federal em 25 estados. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) vê indícios de infração à concorrência e investiga associações do setor. A preocupação é verificar se houve um movimento articulado de empresas para restringir a circulação de mercadorias.
A lista de prejuízos deixados pela paralisação é extensa. Desde que os protestos começaram, a Petrobras perdeu R$ 126 bilhões. A estatal não está mais na liderança entre as empresas com papéis negociadas na Bolsa, ocupando agora o quarto lugar. As pressões por mudanças na política de preços da companhia afetaram a confiança dos investidores, apesar das declarações reiteradas do governo de que a companhia não será prejudicada. Os sinais de incerteza contaminaram o humor do mercado e afetaram o desempenho da Bolsa, que teve a maior queda desde o escândalo da delação da JBS.
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