- Valor Econômico
Lula pede para Haddad apressar plano de governo
O PT deve indicar o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em convenção a ser marcada para o fim de julho, mas pode deixar vaga a designação do candidato a vice-presidente. A lei permite que a indicação seja feita mais tarde pela Comissão Executiva Nacional do partido, desde que previamente autorizada pelos convencionais.
O tema ganhou corpo depois que os cinco governadores do PT pediram para Lula antecipar a escolha do vice, para que o candidato pudesse se preparar para a eventualidade de o ex-presidente não ser candidato. A decisão final será carimbada por Lula em Curitiba, como o foram todas as outras até agora.
Da prisão no Paraná, Lula ganhou todas as demandas abertas em sua ausência. E a palavra de ordem do caudilho petista é 'Lula candidato' até Lula dizer que não é mais e indicar um nome do PT ou de outro partido, se indicar. À exceção de Camilo Santana (CE), que está com Ciro Gomes, os governadores petistas recuaram da proposta de indicar já ao menos o vice.
Lula não está isolado em Curitiba. Lê, recebe e envia recados e tem mais visitas que as de Gleisi Hoffmann, presidente do PT, feitas em geral nas tardes de quinta-feira, após o encontro do ex-presidente com a família. Quando acorda e olha para o teto, segundo contou a visitantes, não há dia em que deixe de perguntar: "O que é que eu estou fazendo aqui, todo mundo sabe que eu não sou dono daquele tríplex"?
Lula não deixa o PT desencadear o Plano B por dois motivos. Primeiro porque não quer passar a impressão para os militantes de que espera ficar na prisão por um longo período. Depois porque liberar agora o partido pode passar a mensagem errada de que desistiu, o que não é definitivamente o caso. Após um mês de prisão, ele perdeu apenas 0,98% de apoio, segundo as pesquisas de Marcos Coimbra (Vox Populi) feitas por encomenda da CUT, o que demonstraria a correção da estratégia adotada.
O ex-presidente, ainda o líder isolado das pesquisas eleitorais, também decidiu politizar mais sua defesa. Não deve haver mudança de advogados, pelo menos nas ações já em curso, mas Lula da Silva, no período anterior a sua prisão, subestimou a opinião dos que diziam que ele seria condenado por Sergio Moro e que, condenado, não teria chance alguma no STF.
Nem tudo está saindo de acordo com o planejado: dias depois de acertar a politização da defesa, os advogados de Lula atacaram o juiz Sergio Moro por ter aparecido em uma festa ao lado do ex-prefeito de São Paulo João Doria. Iniciativa que só permitiu aos amigos de Moro, que ainda vai julgar outros processos de Lula, difundirem fotos do ex-presidente ao lado de Geddel Vieira Lima, ex-ministro preso na Papuda, e de Paulo Maluf, que dispensa apresentação.
Condenado pela acusação de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lula calculava que poderia ser preso, mas no fundo duvidava que um ex-presidente da República pudesse parar atrás das grades. Ele esperava alguma 'gratidão' dos ministros indicados para o STF por ele e pela ex-presidente Dilma Rousseff. Chegou a se queixar dos amigos que disseram que ele não deveria contar com os ministros do Supremo e que seria preso. Acusou-os de mau augúrio.
O momento crítico se deu quando a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia, estava por decidir se pautaria primeiro um habeas corpus de Lula ou a ação que poderia rever a jurisprudência da Corte sobre a prisão após condenação em segunda instância. O julgamento do segundo item poderia abrir uma brecha para o STF mandar soltar Lula, independentemente do habeas corpus.
Lula estava certo de que a revisão da jurisprudência seria julgado em primeiro lugar. Aconteceu exatamente o contrário. O primeiro sinal foi uma conversa do ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence, incorporado às pressas à defesa de Lula, com a presidente do Supremo. Pertence e Cármen Lúcia são o que se pode chamar de velhos amigos. Ele foi um dos patronos - talvez o principal - da indicação dela para a Suprema Corte. Mas a conversa não fluiu como se poderia esperar entre dois mineiros amigos de longa data.
Cármen Lúcia acabou por fazer exatamente o oposto do que esperava Lula da Silva. Mas no percurso o ex-presidente e seus amigos cometeram outros erros graves. O encontro de Pertence com Cármen Lúcia se deu dentro dos cânones estabelecidos, uma conversa entre juiz e advogado. Mas o PT também enviou Gilberto Carvalho, amigo próximo e ex-ministro de Lula, para falar com o ministro Dias Toffoli, um ex-advogado do partido e ex-assessor de José Dirceu, que está preso em Brasília, homem forte do PT desde sempre.
O mínimo que se pode dizer da abordagem é que ela foi inconveniente. Toffoli é um ministro do Supremo; Carvalho apareceu como mensageiro de um recado. A conversa deu em nada. Só provocou mais desgaste. Há relatos no PT e no Judiciário sobre uma suposta tentativa de abordagem da ex-presidente Dilma sobre a ministra Rosa Weber, que teria resultado num desastre total. Ministros do Supremo não costumam achar que devem lealdade a quem os indicou.
Depois de puxar as orelhas dos governadores e de Jaques Wagner e Fernando Haddad, que ensaiavam conversas com Ciro Gomes, o pré-candidato do PDT, Lula por fim decidiu também acelerar a própria campanha. Ele pediu pressa para a Haddad na conclusão do programa de governo. O ex-presidente vai esticar a corda de sua candidatura até a última palavra de um tribunal superior. Só então deverá indicar - ou não - outro nome para seu lugar. Pode ser qualquer um dos quatro nomes do PT citados como opção: Haddad, Jaques, Patrus Ananias e o ex-chanceler Celso Amorim. Ou alguém de outro partido - Ciro Gomes (PDT) é o nome mais falado, apesar de ser considerado "indigesto" no PT.
Sobre a mesa de Lula há uma proposta de acordo envolvendo indulto presidencial. Ele não fala muito disso. Diz que já não é o "Lulinha paz e amor" e deixa a entender que pode fazer eventuais ajustes de conta no futuro - Mas garante que o que quer ser mesmo é o "presidente da pacificação nacional".
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