terça-feira, 12 de junho de 2018

Com um pé atrás: Editorial | Folha de S. Paulo

Apesar do bom momento da seleção, caem apostas no título e o interesse na Copa, mostra o Datafolha

Depois do traumático desempenho em casa, no Mundial de 2014, quando sofreu a famigerada derrota por 7 a 1 para a equipe da Alemanha e ficou num decepcionante quarto lugar na classificação geral, a seleção brasileira de futebol goza de menos confiança no país.

Segundo pesquisa Datafolha, 48% —pouco, para os padrões nacionais— apostam que o time do Brasil vai conquistar a Copa da Rússia, que terá início nesta quinta (14), com a partida entre os anfitriões e a Arábia Saudita.

Trata-se do mais baixo patamar de crença no favoritismo da seleção registrado pelo instituto desde que tal sondagem começou a ser feita, em 1994. Há quatro anos, 68% acreditavam no triunfo da equipe treinada por Luiz Felipe Scolari.

A atitude cautelosa está alinhada com o percentual dos que dizem não ter interesse pelo torneio, que alcançou 53%,¬ patamar mais elevado da série histórica. Na Copa passada, essa indiferença foi manifestada por 36% dos entrevistados a uma semana do início da disputa.

Os resultados contrastam com os excelentes números exibidos sob o comando de Tite, que assumiu o cargo de treinador em junho de 2016, e com as avaliações de analistas nacionais e estrangeiros.

O time chega à Rússia cotado pela maioria dos especialistas como um dos principais candidatos a vencer o Mundial —ao lado, claro, de outros quatro ou cinco selecionados também muito fortes.

O trabalho do técnico é reconhecido, diga-se, pela maioria dos brasileiros. São 64% os que o consideram ótimo ou bom, e só 5% o apontam como ruim ou péssimo.

Parece intuitivo associar essa escalada de desinteresse e ceticismo a uma atmosfera de mau humor geral no país —que tem enfrentado enormes sobressaltos nos campos da economia, no qual ainda se vivem os efeitos da brutal recessão de 2014-16, e da política, com um processo de impeachment e sucessivos escândalos de corrupção.

Ao longo da história se observaram, em graus variados, manifestações contrárias ao clima de ufanismo que costuma se instaurar nos anos de Mundial.

Na ditadura, militantes da oposição resistiram a apoiar a célebre seleção de 1970; em 2014, setores insatisfeitos com o governo Dilma Rousseff (PT) lançaram a campanha “Não vai ter Copa”.

É difícil saber se os números ora coletados pelo Datafolha refletem apenas uma frustração momentânea com o país ou, quem sabe, se apontam uma tendência na qual o futebol vai deixando de ocupar o papel da “pátria de chuteiras”, o catalisador de sentimentos nacionalistas de outros tempos.

Quanto à avaliação das chances do time, é possível dizer que se avança rumo ao realismo, tratando-se de um torneio tão disputado e, por isso mesmo, emocionante.

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