Por Maria Cristina Fernandes, Ricardo Mendonça e Cristiane Agostine | Valor Econômico
SÃO PAULO - É na composição dos palanques regionais e das chapas proporcionais que o PT espera fechar os acordos que levariam o PSB a apoiar o candidatura do partido à Presidência. "A prioridade do PSB é eleger governadores e fazer uma boa bancada federal. O PT tem mais a lhes ajudar nisso que o PDT", diz a presidente nacional da sigla, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), ao justificar o otimismo em relação as chances do partido vencer a disputa com o ex-ministro Ciro Gomes pela noiva mais cobiçada desta eleição.
A maior concessão que o PT tem a fazer ao PSB é a retirada da pré-candidatura de Marília Arraes ao governo de Pernambuco. A vereadora do PT, prima do governador Eduardo Campos, falecido em 2014, e neta de Miguel Arraes, encosta no governador Paulo Câmara nas pesquisas no Estado.
O governador, o principal que o PSB elegeu como cabeça de chapa (Márcio França, de São Paulo, foi eleito vice), comanda o núcleo com o maior número de votos no diretório nacional do PSB. Gleisi elogia Marília Arraes, mas sinaliza com a retirada de sua pré-candidatura ao governo pernambucano como parte do acordo. "A aliança nacional é a prioridade para o PT", repete, em entrevista ao Valor. A dirigente petista diz ter avaliado como positivas declarações recentes do presidente do PSB, Carlos Siqueira, por entender que ele "admite" a hipótese de acordo nacional com o PT.
O PT também oferece apoio ao PSB na Paraíba, no Amazonas e no Amapá, praças em que o partido é competitivo na disputa majoritária. Em Minas, os petistas trabalham para convencer o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) a desistir de sua pré-candidatura ao governo do Estado e disputar o Senado na chapa do governador Fernando Pimentel, que tenta a reeleição. Desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, Pimentel ocupa o principal cargo Executivo em poder do partido.
"A presidenta foi para Minas para ajudar", diz Gleisi, em relação à transferência do registro eleitoral de Dilma para Minas Gerais. A pré-candidatura da ex-presidente ao Senado deu início a uma guerra aberta entre Pimentel e seus aliados do MDB, que querem as duas vagas do Senado da chapa para o partido.
A despeito de sugerir que Dilma não será empecilho aos planos do PT no Estado, Gleisi descarta uma candidatura da ex-presidente à Câmara dos Deputados. Sugere que uma chapa ao Senado que reúna Lacerda e Dilma fortaleceria a adesão do PSB ao projeto de Pimentel e o ajudaria a ganhar autonomia em relação ao MDB mineiro. O governador, no entanto, enfrenta uma difícil campanha à reeleição no Estado, onde enfrentará o senador e ex-governador Antonio Anastasia (PSDB).
Como parte da negociação pelo apoio nacional do PSB, o PT mantém em aberto a vaga de vice na chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, que poderia ser indicada pelo partido aliado. A participação como vice na chapa também é negociada com o PCdoB, que poderia retirar a pré-candidatura presidencial da deputada Manuela d'Ávila.
Ao falar sobre a articulação de Ciro Gomes para tentar atrair o PSB, Gleisi diz que as alianças estaduais entre PT e PSB são mais fáceis e cita dois Estados em que o PDT disputa com o aliado: Amazonas e Amapá.
A dirigente petista diz ainda que acredita em um acordo com Ciro Gomes no segundo turno. "Estaremos todos juntos".
Além das alianças, a distribuição dos recursos do fundo eleitoral estarão, em grande parte, nas mãos do Grupo de Trabalho Eleitoral do PT. O partido terá o segundo maior volume de recursos da campanha, de cerca de R$ 200 milhões, atrás apenas do MDB. Segundo a presidente do PT, que será candidata a deputada federal e reputa por "fantasiosa" a ideia de que será candidata a vice ou à cabeça de uma chapa para tentar retomar o controle do Palácio do Planalto, a prioridade do fundo eleitoral será a campanha presidencial.
A presidente do PT descarta quaisquer planos B para o partido cogitados por seus correligionários. O PT irá protocolar o pedido de registro de candidatura de Lula no dia 15 de agosto, apesar da prisão do ex-presidente. Considerando os recursos que podem vir a ser interpostos contra o registro sob alegação de que o ex-presidente está enquadrado na Lei da Ficha Limpa e os prazos para contraditório no processo de registro, Lula tem candidatura garantida até 12 de setembro, pelo menos, acredita.
Se esses prazos se confirmarem e Lula for barrado pela Justiça Eleitoral, o PT e algum eventual aliado terão cerca de 72 horas para definir que nome será colocado na urna no lugar do ex-presidente.
Gleisi tem expectativa que pode ser considerada otimista em relação à bancada de congressistas que o PT irá eleger. Apoiando-se na informação de que a sigla conseguiu retomar o patamar de aproximadamente 20% da preferência partidária, estima que será possível manter o número de deputados federais, a segunda prioridade eleitoral da sigla, atrás apenas da disputa presidencial. Ontem, depois da entrevista, o Datafolha divulgou pesquisa em que mostra o PT na liderança da preferência da população, com 19%. Em segundo lugar estão empatados o PSDB e o MDB, com 3% cada.
A dirigente petista diz ainda que não vê risco de a esquerda ficar fora do segundo turno da eleição para presidente. Avalia que o PSDB, por ter a imagem associada a Michel Temer, que bate recordes de impopularidade, terá dificuldades muito maiores.
"O brasileiro quer Estado forte", diz. "O povão não vai votar em candidato do mercado. Não foi por acaso que ganhamos quatro eleições consecutivas. Para tirar, tiveram que fazer impeachment. Mas essa pauta deles [PSDB e governo Temer] não passa em eleição", afirma Gleisi, para quem políticas pró-mercado eleitoralmente "não dão certo no Brasil".
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