“A Constituição de 1988. De alguma maneira criou um parâmetro para a sociedade medir o governo ao prever, como promessa a ser realizada, direitos coletivos na área da saúde, da educação, da habitação etc. Houve avanços nessa direção. No entanto, o Estado que aí está, capturado por interesses, tem enorme dificuldade para cumprir as promessas da Constituição de 1988.
Ulysses Guimarães a chamou de Constituição Cidadã. A Lei Maior de fato desenha um estado de bem-estar social. Preservou, porém, mecanismos e dispositivos que favorecem ou asseguram a manutenção de privilégios corporativos.
Na estrutura atual, para dar-se um passo na direção do Estado de bem-estar social moderno, é preciso fazer concessões enormes aos setores corporativos, e não há como financiar isso tudo. Alguém tem que ceder. É o que está estourando hoje com a crise fiscal.
A matriz cultural brasileira era, e ainda é, muito fechada, muito corporativa, esse é o nosso problema, mas não são só as instituições, é a cultura. As pessoas pensam assim. Temos que lutar para obter uma mudança de valores, ajustando-os aos desafios contemporâneos.”
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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República. “Crise e reinvenção da política no Brasil, p.106. Companhia das Letras, São Paulo, 2018.
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