- O Globo
O pessimismo com a economia voltou a crescer, o governo ficou ainda mais impopular e nunca houve tanta gente disposta a anular o voto. A nova rodada do Datafolha fotografou um país em desalento. É neste clima de mal-estar que os brasileiros vão escolher seu candidato a presidente.
O diretor do instituto de pesquisas, Mauro Paulino, descreve o sentimento nacional com palavras como letargia e torpor. Ele diz que o eleitor anda com medo: de sair à rua, de ficar desempregado, de não conseguir atendimento nos hospitais. “O brasileiro está atravessando uma fase de muita insegurança”, resume.
Uma fase de insegurança e de desencanto com a política, indica a pesquisa divulgada no domingo. Aproximadamente um em cada quatro brasileiros (23%) afirma que pretende votar nulo ou em branco. É quase o triplo dos 8% que diziam o mesmo há quatro anos, em junho de 2014.
Nem a crise de abastecimento foi capaz de quebrar o marasmo eleitoral. Apesar dos transtornos, não houve mudanças nas intenções de voto dos principais candidatos. O principal efeito da paralisação foi cavar ainda mais o poço da impopularidade de Michel Temer, cuja aprovação desceu a míseros 3%.
Nada menos que 92% se recusam a votar num candidato apoiado pelo atual presidente. Isso explica por que até o emedebista Henrique Meirelles passou a atravessar a rua quando vê o ex-chefe na mesma calçada. Nem o ex-ministro da Fazenda está disposto a defender o que Temer chama de “legado”.
Quem ganha com o clima de medo? Por enquanto, o deputado Jair Bolsonaro. O ex-capitão mantém a liderança em todos os cenários sem Lula, com 19% das intenções de voto. Só fica atrás do candidato “nenhum”, que chega a 34% nas simulações que excluem o ex-presidente.
Apesar dos pesares, o Datafolha mostrou que 45% dos brasileiros acreditam que a vida vai melhorar depois da eleição. Outros 35% acham que tudo ficará igual, e apenas 7% dizem que as coisas vão piorar.
Os números indicam que há uma demanda reprimida por esperança e otimismo. As duas mercadorias andam em falta no debate eleitoral. Parecia mais fácil encontrar chicória na feira durante a greve dos caminhoneiros.
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