quarta-feira, 20 de junho de 2018

Medos globais: Editorial | Folha de S. Paulo

Novas ameaças de Trump ao comércio com a China elevam a instabilidade aos mercados financeiros

Ainda são incertos os efeitos da ofensiva de Donald Trump contra o livre comércio, que afronta também a racionalidade econômica e o direito internacional. Já há o bastante, porém, para transtornar os mercados financeiros e abater as perspectivas do crescimento mundial, incluindo o brasileiro.

Na semana passada, os EUA passaram a cobrar impostos de importação mais altos sobre US$ 50 bilhões (R$ 187 bilhões) em produtos da China, que respondeu na mesma moeda. Na segunda (18), o republicano voltou à carga: ameaçou impor tarifas mais altas sobre outros US$ 200 bilhões (R$ 749 bilhões).

A consequência prática de tais escaramuças na economia americana —cujo PIB passa dos US$ 18 trilhões (R$ 67 trilhões)— ainda é pequena. Além do mais, apesar da retórica belicosa, as transações entre as duas potências aumentam sem parar, assim como o saldo em favor do país asiático.

No entanto Trump tumultua o mundo. Em primeiro lugar, cria incerteza, e o investimento tende a se retrair. Segundo, cresce a volatilidade nos negócios financeiros, o que gera mais especulação e, agora, perdas de patrimônio.

Por fim, temem-se respostas mais duras da China —que, no limite, sem mais como retaliar nas compras de mercadorias, pode desvalorizar sua moeda, possibilidade que já se reflete no mercado de câmbio.

O presidente americano mostra que está disposto a manter ou ampliar frentes do conflito. Trata-se de política, por insana que seja, não de mero arroubo. Não por acaso, o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, afirmou que a ameaça de guerra comercial constitui o principal risco econômico no momento.

O Brasil começou a sentir as consequências das políticas de Trump no primeiro trimestre deste ano, com a alta do dólar.

Mais tensões no câmbio, domésticas e globais, tendem a prejudicar ainda mais a frágil retomada que se ensaiava. Por aqui, as turbulências se agravam com a ruína orçamentária do governo e a indefinição do cenário eleitoral.

O que poderia conter Trump? Talvez o interesse das próprias grandes multinacionais do país, influentes, em tese, no Partido Republicano. Essa é uma análise racional, porém. No momento, ele parece pairar acima das razões da economia de seu país e do mundo, voltado para sua agenda política.

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