Tucano cumpriu agenda em 23 cidades desde que se afastou do governo de São Paulo, em abril
Thais Bilenky | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Nos 74 dias transcorridos desde que deixou o governo de São Paulo para disputar a Presidência da República, Geraldo Alckmin (PSDB) foi a 23 cidades diferentes (a algumas delas mais de uma vez), mas frases feitas foram repetidas em destinos os mais variados.
As viagens são agendadas sem um critério particular. Questionada sobre como monta o roteiro do presidenciável, a campanha disse que Alckmin viaja para atender a convites ou pela avaliação política da necessidade de fazer articulação em determinada região.
Tanto assim que, neste início de junho, o presidenciável subiu e desceu no mapa do Brasil várias vezes.
Foi ao Nordeste (Bahia) num dia, desceu ao Sudeste (Espírito Santo) no outro. Voltou ao Nordeste (Sergipe) e na sequência ao Sudeste (Minas), tudo no intervalo de cinco dias.
Alckmin gosta de mencionar que viaja em avião de carreira, e por isso sai mais cedo e demora mais para chegar a seu destino. Alguns auxiliares argumentam que, se fretar aeronave particular, terá mais agilidade no deslocamento e otimizará o tempo.
Mas o tucano prefere pegar a fila do aeroporto sempre que o percurso permite.
A insistência se observa também na forma como prepara suas aparições públicas.
Colaboradores relatam pouca disponibilidade do pré-candidato em acolher sugestões de discursos.
Costuma preferir as fórmulas testadas. Daí falas muito parecidas para públicos muito distintos.
De São Luís a Novo Hamburgo (RS), com escalas em Salvador, Teresina, Poços de Caldas (MG) e Florianópolis, o tucano falou das implicações de "o Brasil ter se tornado um país caro".
"Não tem investimento. Há um mar de obras paradas. Ou muda isso ou vai continuar na decadência econômica", afirmou, por exemplo, na capital baiana, no início de junho.
Em 2013, já havia registro da mesma declaração ser proferida pelo então governador paulista, que buscaria com sucesso a reeleição.
Em 2014, repetiu a frase em Ribeirão Preto (SP), ao lado do então candidato a presidente pelo PSDB, Aécio Neves.
Em setembro de 2017, já cotado para disputar a Presidência, ele voltou à fórmula durante uma agenda como governador na capital paulista.
Outra tecla em que Alckmin bate é o problema que virou o "sistema pluri, multipartidário" brasileiro.
"Hoje você tem 35 partidos no Brasil. Não há 35 ideologias diferentes, então o que temos são pequenas e médias empresas financiadas com dinheiro público", repete desde, pelo menos, abril de 2017.
Só nos últimos dois meses, públicos distintos ouviram essa mesma formulação no Rio de Janeiro, Niterói, Florianópolis, Novo Hamburgo, Vitória, Sergipe e Teresina.
Também usou a mesma frase em São Paulo diversas vezes, como em um evento de produtores de açúcar na segunda (18) e uma entrevista à rádio Jovem Pan nesta terça-feira (19).
Muitas vezes, Alckmin recorre às suas frases de efeito para enfrentar perguntas mais sensíveis.
O "sistema pluri, multipartidário" já foi evocado inúmeras vezes para justificar seu desempenho tímido em pesquisas de intenção de voto: a multiplicidade de candidaturas impede um crescimento vigoroso nessa fase da campanha, sustenta.
Ou quando é instado a responder a acusações judiciais que pesam contra si ou correligionários, situação que se tornou corriqueira com o avanço da Lava Jato.
Nesses casos, também faz uso do expediente. "O PSDB não passa a mão na cabeça de ninguém. A Justiça não é vermelha nem azul. A lei é para todos", repete, com frequência.
Jargões não são exclusividade de Alckmin. Os presidenciáveis Marina Silva (Rede), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Flávio Rocha (PRB) também usam de marcas registradas em discursos.
Nas últimas semanas, o tucano inseriu novidades para se adequar a mudanças no quadro eleitoral. Uma vez incluídas, repetidas serão.
Ao identificar em Jair Bolsonaro (PSL) um importante concorrente, passou a atacar "o candidato da bala".
Com variações, argumentou em Salvador, Serra (ES) e Florianópolis que não será com retórica que se resolverá problemas estruturais do país.
"Não vamos botar hospital para funcionar à bala. Não vamos melhorar a qualidade da educação à bala", atacou, na capital catarinense.
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