Nos últimos dias, os intensos tiroteios no Morro Dona Marta têm assustado moradores da comunidade e seus vizinhos de Botafogo. Mas os dispa rosques e ouvem na região ecoam por toda acidade, pois atingem em cheio o maior símbolo do projeto das Unidades de Polícia Pacificadora. Foi no Dona Mar taque, em 19 de dezembro de 2008, surgiu a primeira das 38 UPPs instaladas no estado. Ao longo de uma década, o modelo de polícia de proximidade praticado na favela ganhou a confiança dos moradores e se tornou vitrine do programa. De 2008 a 2017, não houve qualquer homicídio no local. Os tiroteios praticamente desapareceram. Tanto que, em fevereiro de 2010, moradores entraram em pânico ao verem helicópteros da polícia dando rasantes sobre o morro e soldados do Bope em guerra com traficantes. Pura ficção. Era apenas uma filmagem de “Tropa de elite 2”.
Hoje, a guerra não é mais cenográfica. Como mostrou reportagem do GLOBO, este ano ocorreram 32 tiroteios na comunidade, segundo o site Fogo Cruzado. Já não há mais aromaria de turistas pegando o plano inclinado para ver a estátua de Michael Jackson, no lugar onde o astro gravou parte do clipe “They don’t care about us”, dirigido por Spikeee, em fevereiro de 1996. Morador estiveram de se adaptar aos novos tempos. O Centro Educativo Padre Agostinho Castejon, que abriga 150 crianças, passou a abrir meia hora mais tarde, porque às7h30m, quando começa mas aulas, o risco de tiroteios costumas er maior .“As oportunidades de trabalho diminuíram, ir para a escola ficou perigoso. O tráfico voltou a controlar o morro ”, contou uma moradora.
São muitos os motivos que explicam a derrocada das UPPs. Um deles é que o programa foi expandido demasiadamente, sem que houvesse estrutura suficiente para comportara existência de 38 unidades. Houve também um inaceitável uso político do projeto, que se tornou bandeira de campanha de Sérgio Cabral e seu sucessor, Luiz Fernando Pezão. Falhas na gestão da segurança e o agravamento da crise financeira do estado também contribuíram para o desmantelamento.
Mas não se podem ignorar os ganhos do programa. Em 2007, ano anterior à instalação das UPPs, foram registrados na capital fluminense 2.336 assassinatos, com taxa de 37,8 homicídios por cem mil habitantes, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). A partir de 2008, esse número foi caindo, chegando, em 2015, a 1.200, o menor patamar da série histórica iniciada em 91. É verdade que, nos últimos anos, voltou a subir —em 2017, foram 1.492, com taxa de 22,7 homicídios por cem mil. Mas ainda está longe dos índices pré-UPP.
Portanto, é preciso recuperar esse projeto que prioriza a polícia de proximidade em vez da surrada estratégia de confronto. O modelo é possível, tanto que já foi posto em prática, com resultados significativos. O próprio gabinete de intervenção propôs desativar parte das UPPs e manter as que são viáveis. O importante é preservar os ganhos do projeto. Porque significa salvar vidas.
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