- Folha de S. Paulo
Sem respostas concretas, deputado se mostra disposto a ser candidato, não presidente
Convidado para o Ministério da Justiça em 1974, Armando Falcão prometeu alinhamento total com Ernesto Geisel. “Ministro não tem programa. O programa é do presidente. Como dizia Rodrigues Alves, o ministro faz tudo o que quer, menos o que o presidente não quer.”
Nenhum chefe de poder é especialista em tudo, mas é ele quem tem a responsabilidade de tomar as decisões finais de um governo. Uma exceção parece ser Jair Bolsonaro.
Evasivo, o presidenciável continua usando seu economista como biombo. Paulo Guedes tem planos ousados e não tem vergonha de dizer que vai privatizar “todas” as estatais, por exemplo. O candidato não é obrigado a entender de economia, mas deveria dizer ao menos se concorda com o subordinado.
Guedes quer vender 100% das empresas públicas, embora Bolsonaro se oponha ao saldão. “Vai ter uma resultante interessante. Para mim, são todas. Se não tem nenhuma e tem todas, deve ter algo aí no meio”, disse Guedes à GloboNews.
A 39 dias da eleição, não está claro o que é esse “algo aí no meio”. O economista apresenta suas próprias ideias e pede a investidores, empresários e eleitores um cheque em branco em nome de Bolsonaro.
Divergências no governo são comuns. Às vezes, a Fazenda quer fechar o cofre e a Casa Civil quer gastar dinheiro. Nessa hora, o presidente bate o martelo. No poder, Bolsonaro cederia sempre a Guedes ou toparia contrariar seu principal fiador?
Já se sabe em detalhes o que o líder das pesquisas pensa sobre questões raciais, de gênero e sobre o PT —assuntos que lhe renderam votos até agora. Mas Bolsonaro não estará em campanha para sempre.
“Não jogue responsabilidade em cima de um candidato à Presidência para essa quantidade de problemas que nós temos”, disse ao ser confrontado sobre a restrição de direitos trabalhistas no Jornal Nacional.
Ao terceirizar responsabilidades e fugir de desafios concretos, Bolsonaro só se mostra disposto a ser candidato, mas não presidente.
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