quarta-feira, 29 de agosto de 2018

Hélio Schwartsman: Impeachment fez bem ao PT

- Folha de S. Paulo

Desempenho de Lula nas pesquisas não seria tão positivo se Dilma ainda estivesse no cargo

O impeachment de Dilma Rousseff foi muito bom para o PT. É sempre perigoso invocar o reino dos contrafactuais, mas acho razoavelmente seguro afirmar que o desempenho de Lula nas pesquisas de intenção de voto não seria tão positivo se a ex-presidente ainda permanecesse no cargo, e a responsabilidade pela crise econômica, cujos efeitos ainda se fazem sentir, estivesse mais conspicuamente ligada à criatura que Lula colocou na Presidência.

Mais até, o impeachment é um elemento que se incorpora facilmente à narrativa do PT de que o partido foi vítima de um complô das elites e da CIA para evitar que os pobres melhorassem de vida e para nos privar das riquezas do pré-sal. Por mais fantasioso que seja esse discurso, o fato é que o mau humor da população hoje não recai sobre o PT e sim sobre o governo de Michel Temer (que, aliás, foi escolhido pelo PT para compor como vice a chapa de Dilma).

Nada disso, porém, chega a ser uma surpresa. O duplo risco foi apontado por vários analistas, eu incluído, ainda antes da votação do afastamento.

O outro contrafactual que precisamos ter em mente aqui diz respeito ao que teria acontecido com a economia se Dilma não tivesse sido destituída. Há motivos para acreditar que situação seria muito mais grave. A gestão Temer cometeu uma lista telefônica de erros, mas conseguiu evitar uma deterioração ainda maior do cenário econômico.

E o que acontece agora? Lula dificilmente poderá concorrer, mas, com a forcinha dada pelo impeachment, deve ser capaz de transformar seu vice, Fernando Haddad, num candidato competitivo. Bolsonaro não é um fenômeno (ou deveria dizer ameaça?) que possa ser ignorado, mas não creio que passará incólume pela propaganda na TV.

Eu ainda apostaria, mas só quantidades bem módicas de dinheiro, num segundo turno entre PT e PSDB, que é o cenário que se repete desde os anos 2000. O statu quo tende a ser mais difícil de derrubar do que se supõe.

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