- Folha de S. Paulo
Planos de candidatos vão se reduzir a administrar a ruína no dia após a eleição
É tão certo quanto haver um dia após o outro que candidatos a presidente apresentarão planos de Napoleão de hospício.
Como o dia depois do amanhã da eleição será dramático, o disparate parece maior nesta campanha.
Os sonhos de grandeza ou as mentiras desavergonhadas serão reduzidos logo de início a discussões sobre contas caseirinhas, emergências da ruína; a seguir, a uma conversa sobre como desiludir o eleitorado de modo não muito chocante. Qualquer pessoa adulta dirá que sempre foi assim. É verdade. A diferença é o tamanho do desastre, raro em quase 130 anos de República.
O presidente eleito no mais tardar no dia 28 de outubro deveria debater com o Congresso o Orçamento de 2019.
Isto é, discutir como arrumar uma ou duas dúzias de bilhões a fim de não furar o teto de gastos.
Ou seja, terá no mínimo de fazer pressão para que o Congresso de saída derrube reajustes salariais, por exemplo, entre eles os dos juízes.
Mesmo assim, verá o Orçamento de obras (investimento), reduzido à menos da metade do que foi entre 2010 e 2016.
Há cheiro de queimado no ar quanto às taxas de juros. Alarmistas no mercado financeiro começaram a mexericar que o Banco Central pode elevar a Selic depois da eleição, no dia 31 de outubro. O presidente eleito pode ter de pensar na sua penúria ainda com o agravante de juros em alta.
Nas estatísticas e nos números da praça financeira há um ligeiro indício da possibilidade de a Selic subir, embora as expectativas de inflação estejam comportadas pelo menos até 2020.
Sim, o dólar pode ir às alturas com mudanças na política econômica do mundo rico, com os incêndios de Donald Trump, o Nero Laranja, com a crise turca se alastrando pela argentina e, enfim, com os desdobramentos da eleição brasileira.
Mas, francamente, o dólar ainda não foi muito longe e o repasse de preços está controlado devido à estagnação econômica.
O mercado de trabalho voltou a piorar, uma tragédia.
As taxas de juros reais no mercado sobem desde maio, passando da casa de 2,3% ao ano para 4,1% (taxa de um ano, ex-ante). Pouco? Na campanha do BC para diminuir as taxas básicas de juros, levou tempo para o juro real na praça cair de 4,1% para 2,3%, mais ou menos de julho de 2017 a abril de 2018.
De qualquer modo, conhecido o presidente, haverá conversa imediata sobre juros, Orçamento e a necessidade de cancelar reduções de impostos ("reonerações"), na prática aumento de carga tributária. Se o presidente tiver algum apreço pelo futuro, o seu inclusive, pensará em articular a aprovação da reforma da Previdência ainda neste 2018.
Ideias como zerar o déficit público ainda em 2019 parecerão ainda mais lunáticas ou, se tentadas, provocarão um tumulto operístico, dos wagnerianos. Ficções ou desvarios como inventar um sistema previdenciário de contas individuais ou ignorar a necessidade de reforma terão efeito similar. "Refundar a federação" (dar mais dinheiro para Estados e municípios) é outra patranha vergonhosa.
A criatura eleita em outubro terá de contar moedas e evitar um modo de expectativas de inflação e juros começarem a decolar, começando a governar a miséria mesmo antes de tomar posse. Conviria que não piorassem ainda mais a situação propondo mirabolâncias na área econômica. A mera sugestão de besteiras por parte de candidatos favoritos será um tiro no pé do eventual eleito. Quiçá na cabeça.
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