Universidade pública não é o melhor organismo para abrigar uma instituição com carências históricas
Raras tragédias podem ser tão adjetivadas como “anunciadas” quanto a destruição do Museu Nacional, com 200 anos de história e 20 milhões de peças destruídas ou danificadas, um dos grandes acervos mundiais de história natural.
O GLOBO guarda nos arquivos incontáveis reportagens sobre os riscos que corria a instituição. Há notícias na imprensa já na década de 30 do século passado. No início de agosto, o Ministério Público Federal, depois de receber várias denúncias sobre a precariedade do prédio, com destaque para instalações elétricas, cobrou explicações da direção da instituição. Recebeu como resposta um pedido de audiência.
A lista de responsabilizações é infindável. Sem prejuízo dos devidos inquéritos, importa muito tratar de causas estruturais do desastre. Por exemplo, o ambiente administrativo e burocrático em que está o Museu.
É impossível rebater com argumentos sólidos a constatação de que o Museu Nacional não deveria ser tratado como simples departamento da Universidade Federal do Rio de Janeiro, apesar de seu aspecto de ensino e pesquisa.
Museu precisa ter autonomia para buscar outras fontes de recursos, além da bilheteria. Não pode ser esquecida, neste debate, a informação de que o ex-prefeito Israel Klab in, devido Banco Mundial, conseguiu, há mais duas décadas, que a instituição financeira multilateral oferecesse um crédito de US$ 80 milhões ao Museu, a serem aplicados em sua modernização. É muito provável que não houvesse a catástrofe.
Mas não teria sido aceita a correta exigência do Bird de que o Museu passasse a ser administrado por uma organização social (OS), modelo que segue critérios privados de gestão, como meritocracia, trabalho por metas etc. É usado com êxito no setor de Saúde em alguns grandes estados (no Rio houve problemas, mas por características de governos locais). O veto, se houve, foi de inspiração ideológica.
O meio universitário brasileiro tem cultura anticapitalista, inimiga da iniciativa privada. Mas como a vida real é mais forte, há casos de sucesso no meio, em conhecidas entidade públicas de ensino, de faculdades que conseguem oxigênio por meio de convênios e contratos de prestação de serviço a empresas privadas. É mais fácil, por certo, nas áreas ditas de “ciências exatas”. Porém, a abertura ao setor privado e a métodos modernos de gestão, sem alterar o caráter público da instituição, pode e deve ser adotada no Museu Nacional.
O enorme crescimento da folha de salários da UFRJ, enquanto os investimentos diminuem, denuncia grave distorção. Reconheça-se que este é um problema sério de todo o Estado brasileiro, porque os salários são intocáveis, e os servidores se aposentam, tendo algumas de suas castas vantagens faraônicas. Mas, até por isso mesmo, os museus e instituições do gênero deveriam ter uma vida própria, menos vulnerável à visão cartorial do serviço público. Ideologias à parte.
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