- Valor Econômico
Novos congressistas do PSL e aliados serão testados em ambiente radicalizado e sem o guia de um plano de voo
Os resultados do primeiro turno das eleições deste ano surpreenderam a todos os brasileiros. Não só pelos números finais captados nas urnas, mas, principalmente, pelas mudanças que ocorreram nos dias finais da campanha. Dois exemplos chamam a atenção dos analistas: as eleições para governador de Minas Gerais e do Rio de Janeiro. No primeiro caso o candidato do partido Novo ultrapassou nas 48 horas que antecederam a abertura das urnas o primeiro colocado nas pesquisas e abriu uma frente que lhe garante o favoritismo no segundo turno. No caso do Rio de Janeiro tivemos o mesmo rush final de um candidato desconhecido e que chega ao segundo turno também na posição de favorito.
Em ambos os casos os candidatos que foram ultrapassados são políticos tradicionais, com uma história longa e que ocuparam cargos importantes em seus respectivos Estados. Já seus desconhecidos adversários declararam antecipadamente seu voto para o candidato Jair Bolsonaro.
Mas estas não foram as únicas surpresas nas urnas. As inúmeras derrotas de candidatos favoritos a vários cargos no Executivo e no Legislativo ocorreram em praticamente todo o território nacional, atingindo tanto figuras de expressão da política nas últimas décadas como figuras de menor expressão.
O corte feito pelo eleitor buscou a eleição de figuras novas e não vinculadas aos partidos mais tradicionais, principalmente PT, MDB e PSDB. Este movimento fez com que mais de 250 deputados federais fossem substituídos por novas caras, reduzindo a importância dos partidos líderes nos últimos 25 anos e aumentando a pulverização das bancadas no Congresso.
Nas colunas de junho e julho passados escrevi sobre estarmos vivendo no Brasil o fim de um ciclo de mais de 25 anos e que marcou de forma muito forte a atividade política no Brasil. Mas de forma alguma previ a intensidade deste fenômeno, como ocorreu nas eleições deste 7 de outubro, dividindo quase ao meio a sociedade brasileira. Ou seja, a transição que eu intuía já estar ocorrendo, pela perda de credibilidade dos partidos dominantes, chegou de forma abrupta e com uma intensidade que não faz parte da sociedade brasileira. O eleitor médio decidiu penalizar a classe política com a perda de mandato de seu núcleo dirigente e identificado com o período em que a corrupção sistêmica tomou conta do funcionamento do parlamento.
Nomes quase históricos da política nacional, à esquerda e à direita do espectro ideológico, foram mandados para casa surpresos e humilhados com a reação do eleitor. Para seu lugar foram chamados candidatos sem experiência, recrutados em grupos sociais alternativos e a maioria deles chega a suas novas funções com a faca na boca para mudar o funcionamento da política no Brasil de forma radical.
O toma lá dá cá, que foi a marca do chamado Presidencialismo de Coalizão na palavra do cientista político Sergio Abranches, deverá ser substituído por um outro soft em que a formação de maioria no parlamento seguirá apenas o caminho das ideias e apoio aos projetos do governo ou da oposição. A conferir se isto vai ser possível em um sistema que fez da pulverização partidária sua forma de ser depois de anos em que a troca de favores funcionou como forma de apoio político.
A História nos mostra que mudanças radicais como a que experimentamos nas eleições do dia 7 de outubro, na grande maioria das vezes, frustram os eleitores. As razões são simples de entender. A principal delas é o fato de que a decisão de penalizar um ou mais grupos políticos substituindo seus membros por opositores radicais, não garante o sucesso desta empreitada. E preciso ter certeza de que as novas lideranças têm condições de trazer ao Parlamento e ao Executivo ideias coerentes e detalhadas da nova forma de agir.
Também é preciso testar se os membros desta nova maioria possuem disciplina e estão conscientes do plano de ação a ser executado pela nova liderança. Finalmente é preciso que ocorra um período em que este grupo seja testado nos embates parlamentares para mostrar condições efetivas de suas lideranças.
Nada disto ocorreu no último dia 7 de outubro. O principal cimento que uniu quase 50% dos eleitores em torno do candidato Jair Bolsonaro e seu partido foi a rejeição do eleitor ao PT e aos partidos de centro tradicionais. E esta escolha foi feita tendo como referência ideias muito vagas de um eventual Plano de Governo e alguns slogans de campanha que tiveram sucesso para caracterizar este movimento de oposição a um sistema político corrupto e ineficiente.
Os novos deputados e senadores eleitos pelo PSL e seus aliados são, na sua grande maioria, neófitos na atividade parlamentar. Serão testados no exercício de suas novas atividades em um ambiente radicalizado pela divisão dos eleitores e sem a orientação de um Plano de Voo coerente e detalhado. Tudo isto dentro de um quadro econômico muito difícil e com uma urgência muito grande na aprovação de reformas na área fiscal.
Em agosto passado, na minha coluna mensal do Valor, trouxe ao leitor a imagem de um filme de Fellini - Ensaio de Orquestra - para tentar caracterizar o processo político que já estávamos vivendo aqui no Brasil. O que aconteceu em setembro e no primeiro turno das eleições reforçou muito o acerto desta minha imagem.
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Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.
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