O Banco Central vai manter a taxa de juros em 6,5% nos próximos meses até que se torne clara a intensidade da recuperação da economia e seu reflexo no balanço de riscos que, na reunião deste mês do Comitê de Política Monetária, foi considerado "simétrico" - equilíbrio entre os fatores que podem levar a inflação para cima ou para baixo. As análises que o Copom faz em sua ata desencorajam, a princípio, a redução da Selic no curto prazo, aposta de boa parte dos analistas, após o fraco resultado do último trimestre de 2018, do decepcionante início de ano e do corte das projeções para o crescimento do PIB no ano.
Não houve surpresa sobre a decisão final do Copom. Uma ação decidida como a de redução dos juros dificilmente seria tomada na estreia do presidente do Banco Central, Roberto de Oliveira Campos Neto. A ata, porém, tem nuances conservadoras, ainda que esse tom já estivesse presente na pregação de "cautela, serenidade e perseverança" da gestão anterior.
Há motivos para cautela. As projeções de inflação feitas pelo Copom com os juros a 6,5% e taxa de câmbio a R$ 3,85 por dólar são de 4,1% para 2019 e 4% para 2020, ambas sem folga em relação ao centro da meta nos dois anos. O Copom aponta que as medidas de inflação subjacentes (núcleos) estão em níveis "apropriados ou confortáveis", mas sinaliza que a inflação acumulada em doze meses terá um pico em abril ou maio para depois declinar para o nível projetado. O IPCA-15 de março em doze meses mostrou esse movimento, subindo de 3,74% em fevereiro para 4,18%. Alimentação e transportes provocaram 80% da alta, de 0,54 ponto percentual do índice mensal.
Se a inflação está em alta, algo pode acontecer que impeça a trajetória de retorno à meta. Um dos riscos é a deterioração das expectativas sobre a reforma da previdência, outro é a evolução do cenário externo e um terceiro, novo, é o de a economia finalmente voltar a crescer com desenvoltura, deixando para trás o ritmo arrastado e sujeito a quedas que teve desde que a recessão se encerrou. O Copom "julga importante observar o comportamento da economia brasileira ao longo do tempo, com menor grau de incerteza e livre dos efeitos dos diversos choques a que foi submetida no ano passado". A conclusão é que esta avaliação "demanda tempo e não deverá ser concluída a curto prazo".
Essa dúvida surge no item 12 da ata, no qual o Copom mostra que, mesmo com resultados ruins do último trimestre de 2018 e revisões para baixo do crescimento no primeiro trimestre deste ano, "as projeções para o crescimento do PIB na margem - do primeiro ou segundo trimestres em diante, em relação aos trimestres anteriores - não sofreram alterações relevantes". Isto porque os diversos choques na economia em 2018 produziram "impactos" sobre a economia e "aperto relevante nas condições financeiras".
Há mudança de tom sutil e controversa a respeito. Os fatores que persistem desses choques foram o aumento de juros e o aperto de crédito pelos bancos. A atividade econômica, porém, como indicou a ata de maio de 2018 - antes portanto da greve dos caminhoneiros -, "mostrou arrefecimento", perda de fôlego ampliada pela paralisação e pela desvalorização do real, cujos efeitos sobre a inflação foram imperceptíveis. Há mais de um ano que o Copom assinala que "a economia segue operando com alto nível de ociosidade dos fatores de produção, refletido nos baixos índices de utilização da capacidade da indústria e, principalmente, na taxa de desemprego".
O BC, nessa reunião de maio, deixou claro que discutiu corte de juros para 6,25%, dada a fraqueza da economia, mas desistiu pelo agravamento do cenário externo, que depreciou o real e trouxe um risco de sinal contrário para a inflação. Na ata de dezembro, o Copom registrou que o "risco de uma inflação abaixo da meta aumentou". A ata de fevereiro apontou "arrefecimento dos riscos inflacionários" pelo lado da atividade, mas, sem explicações convincentes, decidiu que o balanço de riscos pendia para a alta. Agora o Copom concluiu que os riscos são simétricos, embora haja "avaliações e ponderações distintas em relação à evolução de cada risco".
Os choques na economia em 2018 já se dissiparam, como apontou antes o próprio BC. Há poucas dúvidas de que a curto prazo a economia continuará avançando lentamente. O destino da reforma da previdência pode mudar o jogo, mas sua tramitação levará mais tempo. De 2018 restaram juros altos da banca e incertezas externas. A redução dos juros tem de ser mantida no cardápio do BC.
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