- O Globo
Depois de uma derrota aterradora, o ministro Paulo Guedes produziu o melhor retrato da desorganização do governo Bolsonaro. ‘É do nosso lado que está falhando’, disse
O ministro da Economia, Paulo Guedes, produziu ontem o melhor retrato da desorganização do governo. No dia seguinte a uma derrota aterradora na Câmara, ele admitiu estar “assustado” com os erros na articulação política do Planalto.
“Acho que tem havido uma falha dramática. Um governo que entra com aprovação popular enorme... de repente, quando ele parte para as ações no Congresso, o principal opositor dele é ele mesmo?”, questionou. “Eu acho que está falhando alguma coisa entre nós. É do nosso lado que está falhando”.
Diante de senadores espantados, Guedes explicou o sumiço da véspera, quando era esperado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara.
“O aviso que eu tinha era assim: ‘Você foi convidado pra um lugar onde não tem nem relator, e já está todo mundo preparado pra jogar pedra. E o seu partido vai jogar pedra também, porque eles estão contra’. Eu falei: ‘Pô, não tô entendendo mais nada aqui’. Pelo amor de Deus!”, contou o ministro. “Realmente, é assustador. Eu ontem tomei um susto também”, desabafou.
Em outro momento, o ministro ameaçou entregar o cargo se a sua agenda empacar de vez. “Eu voltarei para onde sempre estive. Tenho uma vida fora daqui”, disse. Ele também ensaiou uma desculpa para a falta de experiência política: “Eu sou de Marte. Cheguei agora. Tô olhando”.
O presidente Jair Bolsonaro não pode se dizer um marciano. Depois de 28 anos como deputado, deveria ter aprendido que governos não sobrevivem sem negociar com o Congresso. Ele estava no plenário quando a Câmara aprovou os impeachments de Fernando Collor e Dilma Rousseff.
Na manhã de terça, Bolsonaro foi ao cinema enquanto os deputados discutiam como retaliá-lo. O forfait de Guedes aumentou a sede de vingança. À noite, a Câmara aprovou uma emenda que engessa o Orçamento. As duas votações foram de lavada: 448 votos a três e 453 votos a seis.
A surra lembrou o início de 2015, quando Eduardo Cunha transformou a Câmara numa fábrica de pesadelos para Dilma. A Casa passou a aprovar uma pauta-bomba por semana, até desestabilizar de vez o governo. Para um deputado próximo de Rodrigo Maia, o episódio de terça foi ainda mais humilhante. “A Dilma perdia, mas tinha os votos do PT e do PCdoB. Agora nem o PSL ficou do lado do Bolsonaro”, observou.
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