- Folha de S. Paulo
Pleito após pleito, grande parte do eleitorado vai às urnas e repete o ciclo, na vã esperança de que, na próxima vez, algo diferente ocorra
Na linha “a democracia não é bem o que se imagina”, recomendo vivamente “Why Bother with Elections?” (por que se preocupar com eleições), do cientista político Adam Przeworski (NYU).
O livro é brutalmente realista. Diz logo de cara que a democracia é o regime da decepção. Um pouco menos da metade dos eleitores odeia o resultado da última eleição, e os cinquenta e poucos porcento que votaram no candidato vitorioso logo ficarão desapontados com sua performance. Ainda assim, pleito após pleito, grande parte do eleitorado vai às urnas e repete o ciclo, na vã esperança de que, na próxima vez, algo diferente ocorra.
Przeworski também deixa claro que eleições são incapazes de trazer uma solução para nossas ansiedades econômicas, imprimir racionalidade às decisões coletivas e ainda padecem de vieses graves, como a enorme vantagem que dão aos candidatos que já ocupam o cargo. De 2.949 pleitos registrados entre os anos de 1788 e 2008, os titulares venceram 2.949, ou 79%.
Democracia e eleições só funcionam, diz Przeworski, porque, em determinadas condições, permitem que processemos, sob relativas paz e liberdade, os conflitos que existam numa sociedade. Em outras palavras, elas previnem a violência.
O que mais me chamou atenção no livro foram as condições em que a democracia opera o seu milagre. E a mais surpreendente delas é que, para a democracia funcionar, os resultados de eleições não podem fazer muita diferença ao longo do tempo.
Com efeito, para que eleições promovam a paz, é preciso que valha a pena, para a parte derrotada, esperar algum tempo para voltar ao poder em vez de recorrer à violência para tentar se impor. E esperar será a solução racional apenas se a parte vencedora não puder usar o poder do Estado para perseguir implacavelmente a oposição ou criar políticas que não possam ser revertidas no futuro. É meio contraintuitivo, mas tem lógica.
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