- Folha de S. Paulo
Num país tão desigual, vemos burrice em todas as classes sociais
Depois de resolvermos a crise de saúde que vivemos, o país precisa correr atrás de um remédio para erradicar um outro problema gravíssimo: o da burrice. Ao chamar Jair Bolsonaro de burro, meu colega Hélio Schwartsman disse com todas as letras algo que tive pudores em outras ocasiões. Contive minhas críticas em ignorante, obtuso, ignóbil. Mas o presidente é isso mesmo, burro.
Seria trágico o bastante que um sujeito tão limitado tivesse chegado à Presidência, não fosse o agravante de ser assessorado por gente do mesmo naipe. Quem acompanha as declarações de alguns de seus ministros, como Weintraub e Ernesto Araújo, do Mister Fim do Isolamento, Osmar Terra, do filho aspirante a embaixador e de mais uma dúzia de parlamentares do PSL, não tem a menor dúvida. São todos burros.
E há outro fato que a eleição de Bolsonaro pode confirmar: nossa educação é mesmo uma desgraça, como já suspeitávamos. Mas o empoderamento dos burros em cargos públicos, nos meios de comunicação alternativos e nas redes sociais permitiu que a burrice saísse do armário e revelasse que parte dos brasileiros só precisa ficar de quatro para começar a pastar.
O que explica uma moça afirmar que água tônica tem quinino, "princípio da cloroquina", sugerindo que serve de tratamento para a Covid-19? Burrice. E um comunicador comparar mortes pelo vírus com a quantidade de vítimas por engasgamento? Burrice. E a teoria de que o coronavírus teria sido criado para vender remédio? Burrice. E mais esta: um deputado questionar a eficiência do isolamento por que maridos e mulheres se abraçam e beijam seus filhos? Burrice.
No meio disso tudo, uma constatação surpreendente e preocupante. O Brasil, um dos países mais desiguais do mundo, no quesito burrice vive em condições de igualdade. Tem gente burra em todas as classes sociais.
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