A longa degradação da vida pública no estado e na cidade já se reflete no nível de desenvolvimento
Em trajetória política meteórica, Wilson Witzel, em menos de dois anos, deixou o anonimato da magistratura, surpreendeu ao se eleger governador do Rio de Janeiro em uma campanha que o encheu de confiança para profetizar que seria presidente da República em 2022, até que, na quarta-feira, por 69 votos a zero, a desacreditada Assembleia Legislativa (Alerj), em consulta informal feita pelo presidente da Casa, André Ceciliano (PT), concordou com que seja aberto o processo de impeachment do governador. A unanimidade absoluta só não foi atingida devido à ausência na votação virtual de um deputado do MDB, Rosenverg Reis.
O motivo formal da aceitação do pedido de impedimento são denúncias de fraudes na compra de respiradores para o atendimento de pacientes da Covid-19 e a construção de hospitais de campanha, que justificaram um inédito cumprimento de mandado de busca e apreensão no histórico Palácio das Laranjeiras, residência do governador. Sequer os três deputados do PSC, partido de Witzel, quebraram a unanimidade na consulta de Ceciliano, com a sibilina justificativa de que decidiram dar ao correligionário uma oportunidade para se defender.
O processo de impeachment mantém viva a miséria da política fluminense, com Witzel entrando em uma sucessão de degradações de que constam ex-governadores presos — Anthony e Rosinha Garotinho, Sérgio Cabral, Luiz Fernando Pezão e Moreira Franco —, parlamentares também trancafiados, entre eles a cúpula da última legislatura — o presidente da Alerj Jorge Picciani, o ex-Paulo Melo e o líder do governo, Edson Albertassi —, além de conselheiros do Tribunal de Contas estadual. Adriana Ancelmo, mulher de Cabral, também foi presa por participar das corrupções do marido, e a atual primeira-dama do estado, Helena Witzel, está sendo investigada. É um longo encadeamento de escândalos que ocupa boa parte destes 31 anos desde que o país voltou a ter eleições diretas.
No mínimo desastrado nos negócios públicos, Wilson Witzel fez apostas políticas arriscadas e perdeu. Entrou na onda bolsonarista, dando os braços na campanha do segundo turno, contra o ex-prefeito Eduardo Paes, ao senador já eleito Flávio Bolsonaro. Adotou o mesmo discurso do olho por olho, dente por dente na política de segurança, instituindo uma espécie de licença para matar quem portasse fuzil — atirar “na cabecinha” —, uma temeridade considerando a capacidade de os policiais fluminenses produzirem “autos de resistência”.
Witzel aplicou a mesma estratégia de Jair Bolsonaro de se apresentar ao eleitorado como o “novo”, ambos tendo sido ajudados pela circunstância de os adversários serem Fernando Haddad, do desgastado PT, e o ex-prefeito Eduardo Paes, bem avaliado administrativamente, mas oriundo do grupo de Cabral. Os dois, Bolsonaro e Witzel, venceram, e decepcionam no quesito renovação política, no item costumes. Depois da euforia com a vitória na disputa pelo Palácio Guanabara, Witzel garantiu que sucederia a Bolsonaro no Planalto. Ganhou uma inimizade — toda a bancada do PSL apoia seu impeachment — e está seguro de que a PF pós-Sergio Moro trabalha contra ele.
A decrescente qualidade da política praticada no Rio, cidade e estado, produz também uma já visível degradação administrativa — políticas falhas, decisões tardias quando não equivocadas, gerenciamento não profissional. Tudo resulta em perdas de investimentos, retrocessos na criação de empregos mais bem remunerados e no consequente avanço da informalidade em todos os setores, ambiente em que a criminalidade conquista terreno, incluindo as milícias, cuja infiltração na política tende a se ampliar com o bolsonarismo.
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