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Lição para os generais
O Chefe do Estado Maior do Exército americano, general Mark Milley, vestiu a farda, pôs no peito as condecorações a que teve direito e pediu desculpas públicas por ter acompanhado há 11 dias o presidente Donald Trump na curta caminhada até a igreja de Saint John, a uma quadra da Casa Branca. Ali, Trump limitou-se a posar para fotos com uma bíblia na mão.
Quando o ministro da Defesa do Brasil (ou será ministro da Defesa do governo?), general Fernando Azevedo e Silva, pedirá desculpas públicas por ter sobrevoado de helicóptero ao lado do presidente Jair Bolsonaro a manifestação antidemocrática que ocorreu em Brasília há 12 dias? Lá embaixo, devotos de Bolsonaro portavam faixas pedindo uma nova intervenção militar.
O que é bom para os Estados Unidos nem sempre é para o Brasil, mas nesse caso seria. “Errei e aprendi com o meu erro”, disse Milley. “Eu não deveria estar lá. Minha presença criou a impressão de que os militares estão envolvidos em política doméstica”. E completou: “Precisamos honrar um princípio essencial da República: o de que as Forças Armadas não são políticas”.
A amigos, Milley explicou que acreditava que estava acompanhando Trump e sua comitiva para passar em revista as tropas da Guarda Nacional na Praça Lafayette, local onde houve protestos pela morte do segurança George Floyd. À imprensa, Azevedo e Silva afirmou que pegara carona com Bolsonaro para ir para casa, uma vez que mora perto do local da manifestação.
Duas semanas antes de exibir-se na companhia do ministro da Defesa, Bolsonaro comparecera a outro ato antidemocrático que teve lugar ao pé da rampa do Palácio do Planalto. A seu convite, estavam lá 9 ministros – entre eles, o general da ativa Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo. Do alto da rampa, Bolsonaro levantou o braço do general apresentando-o ao público.
Ramos foi alvo de críticas de seus colegas militares em grupos de WhatsApp. Cotado para substituir o general Edson Leal Pujol no comando do Exército, ele anda falando que se sente desconfortável por ter feito o que fez. Que já conversou com Bolsonaro sobre ir para a reserva, mas que por ora hesita. Gostaria de continuar como ministro para ajudar o país. Ora, tenha dó!
Não há maior engodo do que dizer que não há militares no governo, apenas pessoas com formação militar. Há pelo menos 3 generais da ativa como ministros – além de Azevedo e Silva e Ramos, Eduardo Pazuello, na Saúde. Pazuello só é interino porque seus pares pressionaram Bolsonaro a não efetivá-lo no cargo. Não querem ligar o Exército ao combate perdido contra o Covid-19.
Pazuello empregou cerca de 30 militares no Ministério da Saúde. O número de militares com cargos em diversos escalões do governo já ultrapassou a casa dos 3 mil. Tamanha ocupação pelos militares do aparelho do Estado não aconteceu sequer à época da ditadura de 64. Não vale a desculpa de que a grande maioria é da reserva. Militar da reserva pode voltar a servir se convocado for.
Trump e Bolsonaro insistem em proclamar que contam com o apoio dos militares. Mas quando Trump ameaçou usar as Forças Armadas para enfrentar manifestações de rua, foi censurado pelo secretário da Defesa e por cinco ex-secretários, além de cinco ex-chefes do estado maior das Forças Armadas, dois comandantes de operações de guerra e 86 outros militares de alta patente.
Bolsonaro já fez coisas piores. Defendeu a tortura. Disse que seria muito fácil implantar uma ditadura no país. E dentro de unidades militares, defendeu armar o povo para evitar que a esquerda tome o poder e implante sua ditadura. Quantos militares de alta patente o criticaram por isso? Quantos ex-chefes do estado maior das Forças Armadas? Reina o silêncio dos coniventes.
Um ministério para os filhos de Bolsonaro chamarem de seu
Comunicação em novas mãos
A digital aos irmãos Carlos, vereador, e Eduardo, deputado federal, pesou mais do que se supõe na escolha de Fábio Faria (PSD) para titular do Ministério das Comunicações, uma costela a separar-se do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. Para lá será transferido o “gabinete do ódio” que funciona no Palácio do Planalto sob o comando de Carlos, o Zero Dois.
Não fosse a carga negativa que o nome evoca, a nova pasta poderia ser chamada de Ministério da Propaganda. Porque em grande parte foi recriada justamente para isso – cuidar da propaganda dos feitos do governo do presidente Jair Bolsonaro. Orçamento: R$ 2,3 bilhões. Ali ficará alojada a Secretaria de Comunicação, a Empresa Brasil de Comunicação (EBC) e os Correios.
O partido de Fábio Faria foi criado para não ser de direita, nem de esquerda, nem de centro, como observou à época seu fundador, Gilberto Kassab, ex-prefeito de São Paulo. A escolha de Fábio para ministro não passou por Kassab, embora ele a tenha elogiado. Nem pelo PSD. Foi privativa da família Bolsonaro. Ao comentá-la, o presidente disse que não sabia a que partido Fábio é filiado.
Preferiu justificar a escolha simplesmente assim: “Vamos ter alguém (no Ministério) que não é profissional do setor, mas tem conhecimento até pela vida que ele tem junto à família do Silvio Santos”. Por ser casado com uma das filhas do empresário e apresentador de programa de televisão Silvio Santos, Fábio deverá, portanto, entender de comunicação.
De apoiar governos, Fábio entende. Deputado pelo quarto mandato, ele apoiou o segundo governo de Lula, os dois de Dilma e o de Temer. Uma vez que as redes sociais lembraram seu passado, achou prudente apagar tudo o que havia postado a respeito dos ex-presidentes. O primeiro ato de Fábio como ministro foi convidar Filipe Martins para cuidar da área digital do ministério.
Discípulo confesso do autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho, guru dos Bolsonaro, Martins é o atual assessor especial da presidência da República para Assuntos Internacionais. Está sempre ao lado de Bolsonaro em viagens ao exterior. É amigo de Carlos, Eduardo e Flavio, esse senador. Os três filhos aprovaram com entusiasmo o convite que Martins recebeu.
Eles, agora, ganharam um ministério para chamar de seu.
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