quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Míriam Leitão - Erros econômicos de Bolsonaro na ONU

- O Globo

 Por Alvaro Gribel (interino)

O discurso do presidente Jair Bolsonaro na ONU foi marcado por imprecisões e erros na economia. O auxílio emergencial foi menor do que ele afirmou, o investimento estrangeiro caiu no primeiro semestre e as emissões de carbono do Brasil estão acima da participação do país no PIB mundial. Ao falar sobre os valores destinados ao combate à pandemia, Bolsonaro também misturou transferência de recursos com liberação de compulsório e empréstimos concedidos a consumidores e empresas.

O auxílio emergencial não chegou a US$ 1.000, como disse Bolsonaro. Somando-se todas as parcelas, o valor transferido à baixa renda alcançará R$ 4.200 até dezembro, algo em torno de US$ 777. O presidente parece não estar acompanhando a alta da moeda americana, pois utilizou a cotação do câmbio de janeiro deste ano para fazer a conta. Nesse período, o dólar disparou de R$ 4,20 para R$ 5,40, até 21 de setembro, dia anterior ao discurso.

No Investimento Estrangeiro Direto (IED), outro erro. Ao contrário do que disse Bolsonaro, ele caiu no primeiro semestre. Segundo o Banco Central, de janeiro a junho do ano passado entraram US$ 32 bilhões via IED, 27% acima dos US$ 25,3 bilhões do mesmo período deste ano. É falsa, portanto, a frase de que “no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento do ingresso de investimentos, em comparação com o mesmo período do ano passado.”

Bolsonaro defendeu a política ambiental do governo e disse que o Brasil, apesar de estar entre as dez maiores economias do mundo, emite apenas 3% dos gases de queima de carbono. A comparação não faz sentido. Segundo dados do FMI, a economia brasileira representa 2,4% do PIB mundial. Por essa lógica, portanto, nossas emissões são maiores do que o tamanho do país na economia global.


Brasil: quinto maior emissor

O Brasil, na verdade, é o quinto maior emissor de gases de efeito estufa. Foi isso que explicou Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, em audiência pública no STF ontem. O país só fica atrás de Estados Unidos, China, Índia e Rússia, que têm dois terços de suas emissões em origem na queima de combustíveis fósseis. Já no Brasil, o que mais pesa na emissão são práticas relacionadas ao uso da terra, incluindo aí as queimadas, a pecuária e a agricultura.

Bolsa vale R$ 650 bi a menos

Segundo levantamento feito pela Economática, apenas 25% das empresas da bolsa brasileira recuperaram ou ultrapassaram seu valor de mercado no período anterior à pandemia. São 78 companhias de um total de 293 que têm capital aberto. Quem lidera o ranking é a varejista Magazine Luiza, que valia R$ 91 bilhões em 21 de fevereiro, há sete meses, e hoje é avaliada em R$ 143 bi. Em segundo lugar aparece a Vale, com aumento de R$ 50 bilhões em valor de mercado. Na outra ponta, entre as que perderam, o pior resultado é o da Petrobras, que recuou de R$ 392 bi para R$ 275 bilhões. A petrolífera tem sofrido com os baixos preços do petróleo e a venda de ativos tem se mostrado mais difícil do que o mercado imaginava. Ao todo, a bolsa ainda vale R$ 650 bilhões a menos do que antes da pandemia.

Apreensão no PL do Gás

Representantes do setor industrial saíram apreensivos de uma reunião com o senador Eduardo Braga (MDB-AM). Ele é um dos cotados para ser o relator da nova lei do gás e avisou que pretende mexer no texto, o que faria o projeto retornar à Câmara em caso de aprovação no Senado. Entre as medidas que defende estão a universalização dos gasodutos, estendendo a rede por todo o país, e a ampliação de termelétricas a gás, o que garantiria uma demanda fixa ao produto. A indústria foi contra essas ideias quando o projeto foi aprovado na Câmara.

Nenhum comentário: