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Para alimentar o apetite
dos seus devotos
Mentira nada tem a ver com fingimento, polêmica, controvérsia, desacerto ou engano. Mentira é uma afirmação ou negação que se faz sabendo-se de antemão que é falsa, o contrário da verdade.
O
discurso do presidente Jair Bolsonaro, ontem, na abertura de mais uma
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), está repleto de
mentiras e de meias verdades.
Foi
um discurso coerente com sua trajetória desde o tempo dos quartéis quando
planejou implodir um deles com a ajuda de bombas, à sua longa estadia na
Câmara, e até chegar onde está.
Por
isso não choca quem o conhece. Não foi um discurso feito para convencer
ninguém, nem mesmo seus devotos, convencidos e obedientes. Esses só precisam
ser bem alimentados.
No
mundo da pós-verdade, onde cada um escolhe no que acreditar, Bolsonaro destilou
as suas, nenhuma original, uma vez que ele as repete sem cansar nem ligar para
seus efeitos.
Disse
que durante a pandemia do Covid-19 concedeu auxílio emergencial de
aproximadamente mil dólares a 65 milhões de brasileiros mais pobres (mentira).
Disse
que estimulou, ouvindo profissionais da saúde, o tratamento precoce da doença.
(Não disse que o fez exaltando os supostos benefícios do uso de uma droga
ineficaz.)
Disse
que se mais não fez quanto a isso foi porque a Justiça decidiu que as ações de
combate à pandemia deveriam ficar sob total responsabilidade de governadores e
prefeitos.
(Mentira. A
Justiça decidiu apenas que Estados e municípios têm autonomia para tomar
decisões contra a propagação da covid-19, o que não tira a responsabilidade do
governo federal.)
Disse
que o Brasil é líder em conservação de florestas tropicais. (Mentira. Foi o país que
mais perdeu esse tipo de cobertura vegetal primária em 2019 – cerca de 1,3
milhão de hectares.)
Disse
que mantém a “política de tolerância zero com o crime ambiental” (mentira). E
responsabilizou índios e caboclos pelos incêndios na Amazônia e no
Pantanal (mentira).
Sugeriu
que a Venezuela foi culpada pelo fato de o Brasil ter sido vítima no ano
passado de “um criminoso derramamento de óleo” em suas praias. (A Marinha não
apontou culpados até agora.)
Disse
que em seu governo, o Brasil abandonou o protecionismo e abriu-se para o
comércio mundial. (Mentira. Isso aconteceu quando o presidente Fernando Collor
chegou ao poder.)
E
disse que no primeiro semestre de 2020, apesar da pandemia, houve um aumento do
ingresso de investimentos no Brasil em comparação com o mesmo período do ano
passado.
(Mentira,
outra vez. Os investimentos diretos no país de janeiro a julho de 2019 somaram
US$ 36,4 bilhões. Neste ano, no mesmo período, US$ 25,5 bilhões, uma queda,
portanto, de 30%.)
Que mais? Não basta para um discurso de 15 minutos?
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