Com
a perspectiva de recorde negativo, País pode enfrentar em 2021 uma crise da
dívida
Em
dezembro de 2017, o governo anunciava que um dos principais indicadores da
sustentabilidade das contas públicas estava perto de atingir um limite
perigoso. O Banco Central tinha acabado de
projetar que a dívida bruta do País fecharia em valor bem perto de 80% do PIB no
ano seguinte.
Chegar
a 80% era considerado na época uma espécie de barreira a ser evitada a qualquer
custo, a partir da qual, se rompida, a leitura seria imediata: um aumento
considerável dos riscos para a execução das políticas monetária e fiscal diante
da percepção de uma trajetória explosiva do endividamento
público. Agências de classificação de risco entendiam que esse patamar
indicava um quadro de descontrole da dívida para economias emergentes com o
perfil como o do Brasil.
Pois
nessa sexta-feira, o BC anunciou oficialmente que a dívida bruta ultrapassou a
barreira de 90% do PIB. E o Ministério da
Economia reconheceu, pela primeira vez, que o
indicador vai ultrapassar os 100% do PIB nos próximos anos.
Pelas
novas projeções, o Brasil fecha 2020 numa combinação perversa: as dívidas bruta
e líquida (que desconta as reservas internacionais) chegam ao final do ano em
patamares recordes. O pico anterior da dívida líquida, que por muitos anos
cumpriu o papel de principal indicador de solvência do Brasil, tinha sido na
crise econômica brasileira de 2002.
Naquela
época, a dívida líquida havia subido por conta da alta do dólar provocada pelo
temor de que Lula,
caso eleito presidente da República, daria um calote. Com o compromisso
assumido pelo ex-presidente de manter o tripé macroeconômico, o dólar caiu e a
dívida líquida também.
Agora,
como Brasil tem hoje mais ativos do que passivos em dólar, a queda da moeda
norte-americana não reduz o endividamento como aconteceu em 2002. Pelo
contrário, pode até piorar se o câmbio recuar. O problema, portanto, passa a
ser estrutural.
A
perspectiva de duplo recorde negativo da dívida do País reforça a percepção de
que o governo flerta com a falta de planejamento e pode enfrentar em 2021 uma
crise da dívida. Além do fantasma da segunda onda do coronavírus, que já é
realidade na Europa,
enquanto o Brasil ainda nem saiu da primeira.
Se
o governo precisar injetar mais recursos na economia, como fazem agora os
países europeus, a demora e a desorganização para a arrumação da casa trará
custos ainda maiores.
Pela
fotografia de hoje dos números projetados pelo próprio governo, Bolsonaro
entrega para o seu sucessor, mesmo que seja ele próprio no caso de uma
reeleição, um quadro muito pior daquele que foi entregue ao ex-presidente Lula.
Impossível
não deixar de registrar que, enquanto a espiral negativa cresce, a semana
passou com o presidente da República concentrado em reduzir tributo para
videogames, renovar incentivos para a indústria automobilística, e acirrar
disputas políticas sobre vacinas.
O
ministro Paulo Guedes renovou
mais uma vez a guerra santa com seu desafeto e colega de Ministério, Rogério Marinho, e de quebra subiu o
tom dos ataques à poderosa Febraban, a
associação dos grande bancos.
O
articulador político do governo, o ministro Luiz Eduardo Ramos,
que deveria estar em campo para encaminhar os problemas, se envolveu numa briga
de tuítes com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Se
não bastasse esse cenário de desgoverno, a ciranda chegou até o presidente
da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e foi parar no
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Tudo isso numa
única semana.
Líderes governistas dizem que tudo estará encaminhado até o final de 2020 e que há uma tentativa de pintar o caos. Talvez seja isso que eles queiram. Deixar passar no Congresso tudo bem rapidinho com aquelas votações relâmpagos de fim de ano - chamadas de fim do mundo - que só se descobre o estrago tempos depois. O caos são eles!
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