O
vice-presidente, general Hamilton Mourão, tem um espaço maior que seus colegas
de farda para lidar com a política com mais liberdade, pois foi eleito pelo
voto direto e é indemissível pelo presidente Bolsonaro. Por se posicionar com
independência, já foi visto como uma alternativa mais liberal ao presidente,
que avisou: “O Mourão é mais tosco do que eu”.
Colocado
na vice-presidência da chapa para, segundo o filho 03 Flavio Bolsonaro, tirar
qualquer veleidade de derrubar seu pai, Mourão assumiu o Conselho da Amazônia
para tentar dar uma organizada no combate às queimadas e ao desmatamento.
O
ministro do Meio-Ambiente não é dos mais chegados a Mourão, que o convidou por
último para participar da viagem à Amazônia com representantes estrangeiros.
Algo indica que Mourão preferia que não fosse.
Por
tudo isso, a afirmação dele de que o Brasil comprará, sim, a vacina chinesa,
desde que ela seja aprovada pela Anvisa, entrando em confronto com as
afirmações de Bolsonaro, que disse que, por sua origem, a vacina chinesa não
tinha credibilidade, mostra que há limites para a aceitação das idiossincrasias
do presidente.
Também
outros ministros militares continuam incomodados com a atuação do presidente
Bolsonaro na mediação de desavenças políticas entre seus assessores. “O Jair é
fraco de liderança”, comenta um desses ministros, reclamando da aceitação, por
parte do presidente, dos militantes digitais, que levam para as redes sociais
as baixarias, intrigas e disputas, apoiando os ministros da ala ideológica.
Mourão,
embora tenha dito que não é de seu feitio o desabafo feito pelo General Rego
Barros, ex-porta-voz de Bolsonaro, elogiou o colega de farda, e disse entender
“sua mágoa”. Ao afirmar que “política é política e Forças Armadas são Forças
Armadas”, o vice-presidente parece querer traçar uma linha que separa as duas,
e pode acabar assumindo o protagonismo, por atos e falas, na defesa da ala
militar, que está se aproximando de uma fase reativa em relação aos políticos que
assumiram a liderança do governo.
Não
caiu bem entre eles a revelação, pela mesma revista Veja, das intrigas e brigas
palacianas que continuam nos bastidores da ala ideológica contra militares,
principalmente o general Luiz Eduardo Ramos, o ministro encarregado da
articulação politica do governo e que continua sendo atacado por integrantes da
ala ideológica.
A
desculpa meia boca do ministro Ricardo Salles não acertou as coisas, as brigas
de bastidores continuam, e nas redes sociais, os grupos ideológicos são
violentos e incontroláveis. Certa ocasião, ainda na campanha presidencial de
2018, conversei com o então Comandante do Exército Vilas Boas, na presença de
outros militares. Perguntei por que não controlavam o candidato Bolsonaro, que
espalhava agressões para todos os lados na campanha. O General Vilas Boas
respondeu: “Ele é incontrolável”.
A
aceitação desse tipo de comportamento devia-se à vontade dos militares de
impedir a eleição de Lula. A ida para o governo de vários militares que
conheciam Bolsonaro há muitos anos, alguns deles, como Luiz Eduardo Ramos,
acostumados a terem que controlar o capitão Bolsonaro expulso do Exército, mas
que continuava atuando como líder sindical dos militares nas portas dos
quartéis, tinha a intenção de ajudá-lo a governar.
Um
fato curioso foi o que aconteceu na Academia das Agulhas Negras, quando
Bolsonaro, atrás de votos dos militares, postou-se à porta da instituição
panfletando para parentes e amigos dos formandos. A cerimônia não podia começar
com aquela panfletagem por onde entraria o presidente da República, Itamar
Franco.
Quem foi negociar com o capitão Bolsonaro foi o então Major Luiz Eduardo Ramos, e o máximo que conseguiu foi que o candidato fosse panfletar longe do portão principal. Hoje, quem manda é Bolsonaro, que se utiliza da hierarquia militar para enquadrar seus generais, e os submete à atuação das milícias digitais. Ou a suas idiossincrasias, como fez com o General da Ativa Eduardo Pazzuelo, ministro da Saúde, que teve que engolir calado o presidente desmenti-lo publicamente, afirmando que não compraria a vacina chinesa. Hoje, Mourão garante que o país comprará, sim, a vacina chinesa.
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