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Alguns
governos se aproveitam da sociedade civil; outros agem de forma truculenta
Ilona Szabó e Luiz Felipe D’Avila têm
muito em comum. Nenhum dos dois exerce cargo público, mas ambos contribuem para
a melhoria do debate e do ambiente político no Brasil. Ilona é fundadora do
Instituto Igarapé, núcleo de estudos de ponta sobre segurança. Felipe está à
frente do Centro de Liderança Pública, que estuda a excelência governamental em
várias áreas. Ambos geram conhecimento valioso baseado em evidências.
Ilona
e Felipe fazem parte do que chamamos de “sociedade civil”, palavra que se
incorporou ao vocabulário brasileiro no combate à ditadura militar. O termo
engloba sindicatos, entidades empresariais, organizações cívicas, movimentos
sociais, universidades e “think tanks” – como os liderados por Ilona e Felipe.
Gente que agrega grupos sociais ou produz conhecimento, e ganha voz no debate
nacional. O que inclui publicar colunas em jornais e falar constantemente com a
imprensa, que é a vitrine da sociedade civil.
Ilona
e Felipe são os entrevistados desta semana no podcast Estadão Cidadania. A primeira
temporada traz protagonistas da sociedade civil falando sobre temas quentes da
eleição municipal. Ilona discorre sobre os consensos na área da segurança
pública, e Felipe mostra como os prefeitos podem combater a tragédia da falta
de saneamento, que flagela 100 milhões de brasileiros.
As
trajetórias de Ilona e Felipe também ilustram o relacionamento, nem sempre
tranquilo, da sociedade civil com os governos.
O
Centro de Liderança Pública foi fundamental no debate do novo marco do
saneamento. Levou dados relevantes ao Congresso, trouxe para a conversa várias
organizações não governamentais e, nas redes sociais, chamou a atenção para o
fato de que muitos brasileiros não têm água limpa para lavar as mãos em plena
pandemia. Com isso, o CLP garantiu um debate de alto nível em torno do projeto
relatado pelo senador Tasso Jereissati. O novo marco acabou aprovado pelos
parlamentares escolhidos pelos brasileiros.
O
Instituto Igarapé realiza há muito tempo um trabalho semelhante, municiando
governos com estudos e dados. Na presidência de Michel Temer, por exemplo, o
Igarapé participou da elaboração do Plano Nacional de Segurança Pública, a
convite do ministro Raul Jungmann. No governo
Bolsonaro, Ilona foi convidada para o Conselho Nacional de Política Criminal e
Penitenciária (CNPCP), uma instância consultiva.
Num
capítulo do livro A defesa
do espaço cívico, lançado nesta semana, Ilona narra seu calvário
desde que aceitou o convite do então ministro Sérgio Moro. Começou com ataques
nas redes sociais, orquestrados no âmbito do “gabinete do ódio” – responsável
pela hashtag #ilonanao. Sob pressão, Moro acabou por excluí-la do conselho.
Não
parou aí. Ilona conta no livro que foi citada várias vezes pelo presidente Jair Bolsonaro em
lives e entrevistas, sempre na posição de inimiga do governo. Tais menções
afastaram apoiadores tradicionais do Instituto Igarapé e culminaram com ameaças
à integridade física de Ilona e sua família. Hoje ela vive fora do Brasil.
Uma sociedade civil vibrante e engajada é o que o Brasil tem de melhor. Algumas instâncias de governo se aproveitam desse capital inestimável. Outras agem de forma truculenta contra o maior ativo de qualquer democracia. Para nossa sorte, em colunas e entrevistas – ou em podcasts como o Estadão Cidadania” – Felipe e Ilona não se calam, e continuam a ser vozes relevantes em nosso debate público.
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