O
mercado de trabalho enfrenta a maior crise da sua história, mas não espere que
a equipe econômica faça análises técnicas e sóbrias sobre o momento atual. O
ministro Paulo Guedes e o secretário de Previdência e Trabalho, Bruno Bianco,
têm aproveitado as coletivas do Caged para o autoelogio. É normal que se
comemore a geração de empregos formais, mas pode ter havido subnotificação das
demissões. Além disso, o IBGE conta outra história: desemprego recorde,
precarização do trabalho e aumento do desalento. O país vive uma situação
inusitada, mas já prevista pelos especialistas: criação de vagas com aumento do
desemprego, ao mesmo tempo.
Existem
três termômetros para se entender o mercado de trabalho brasileiro. A Pnad
Contínua, a Pnad Covid, ambas medidas pelo IBGE, e o Caged, que mede o emprego
formal. Isoladamente, nenhum deles é capaz de dizer o que está acontecendo. O
ideal é que a equipe econômica fosse capaz de ter uma visão sóbria e ampla para
formular políticas de saída da crise. Quem acompanhou a entrevista de
quinta-feira com Paulo Guedes e Bruno Bianco teve que ouvir uma sucessão de
frases feitas como “o Caged mostra que desde sempre o nosso presidente estava
correto”, “o mercado de trabalho comprova recuperação em V” ou “criamos o maior
programa de proteção do emprego do mundo”. Bom para palanque, constrangedor em
um ministério técnico.
—
Uma empresa que fechou ou hibernou tem grande chance de ter realizado demissão
sem reportar ao governo. O programa de proteção ao emprego, que reduziu jornada
e salários sem que se pudesse demitir, também deve ter postergado cortes —
explica Duque.
Questionada,
a Secretaria diz que o Caged tem defasagens de informações e que as empresas
ainda podem enviar os dados nos próximos meses.
Os
dados da Pnad divulgada ontem, do trimestre junho-julho-agosto, são de 14,4% de
taxa de desemprego. A maior da história. E existem outros dados preocupantes.
Em relação ao trimestre anterior, terminado em maio, há 4,3 milhões a menos de
pessoas na população ocupada, e 12 milhões a menos sobre o ano passado. Mesmo
com esses dados assustadores, Duque enxerga sinais de melhora. Como a pesquisa
do IBGE só considera desocupado o trabalhador que tentou achar emprego e não
conseguiu, esse indicador não captou o pior momento da crise, quando todos
estavam em casa, e agora também não consegue medir a recuperação, com a
reabertura da economia. Já se esperava essa contradição de a taxa do desemprego
aumentar exatamente quando as pessoas se sentirem mais confiantes a procurar emprego.
—
A Pnad tem outro problema, que é o trimestre móvel. O dado de agosto carrega
também números de junho e julho que foram piores. Então tirando esse efeito da
conta, percebe-se que o mercado de trabalho está melhorando, o que já era
esperado, com a queda do isolamento social — explicou.
Os sinais são trocados e difíceis de entender. O mercado de trabalho sofreu um baque na pandemia. Não é fácil medir o tamanho da queda. Há sutilezas nos indicadores que precisam ser olhados com atenção. O pior a fazer é tratar disso com atitude de propaganda. O importante são os fatos. Sempre eles.
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