Liberdade
de expressão faz parte das inovações que puseram Europa na rota da tolerância
Estou
com Emmanuel Macron. O Ocidente não pode
desistir de princípios como a liberdade de expressão só porque certas
palavras e desenhos ferem suscetibilidades religiosas. A liberdade de expressão
faz parte do pacote de inovações, primeiro cognitivas e depois institucionais,
que colocaram a Europa na rota da ciência, da prosperidade e da tolerância.
Uma
das coisas que mais me chocou quando do atentado contra o semanário satírico
francês Charlie Hebdo, em 2015, que deixou 12 mortos, foi que várias vozes
respeitáveis da sociedade civil condenaram o ataque, mas fizeram questão de
acrescentar que o estilo excessivamente irreverente e provocativo da publicação
havia chamado a tragédia para si.
A
nova crise, que já contabiliza um saldo de dois atentados,
o assassinato do professor Samuel Paty e o ataque a uma Igreja Católica em
Nice, mostra os limites do raciocínio contemporizador. O professor Paty não
tinha a intenção de provocar ninguém. Ele estava apenas explicando o conceito
de liberdade de expressão. Antes de exibir as charges retratando o profeta
Maomé, alertou os alunos muçulmanos para o potencial ofensivo dos desenhos e os
convidou a deixar a sala, se quisessem. Tal cuidado não o impediu de ser
decapitado por radicais islâmicos.
O
problema, portanto, não está na atitude daqueles que criticam religiões, mas no
fato de certos grupos não aceitarem o mais básico dos princípios do pacto
civilizatório, segundo o qual diferenças são resolvidas sem recurso à violência
física.
Ninguém
pede que os muçulmanos aplaudam as charges. Eles têm todo o direito de
criticá-las e os seus autores. Podem xingá-los. Podem até, como estão fazendo,
promover boicotes a produtos franceses, mas não podem matar uma pessoa porque
não gostam do que ela diz ou desenha. Quer dizer, até podem, como mataram, mas,
ao fazê-lo, saem do pacto civilizatório para tornar-se terroristas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário