Está
claro que não havia razão para se dar licença ao Conselho de Ética e a outras
comissões
Desde
o início da pandemia, em março, o Conselho de Ética do Senado não funciona. A
explicação é que se quer resguardar a saúde dos senhores senadores. Enquanto
isso, 13 casos repousam nos seus escaninhos fechados à luz do sol. No mesmo dia
em que o senador Chico Rodrigues (que foi apanhando com pacotes de dinheiro
enfiados entre as nádegas) pediu afastamento por 120 dias, o presidente do
Senado, Davi Alcolumbre, disse não ter pressa para julgá-lo.
Alcolumbre
avisou que não vai reabrir o conselho apenas para atender a uma conveniência,
que seria investigar o malfeito de Chico. Segundo ele, “há uma preocupação de
muitos senadores em relação ao funcionamento do Senado, por conta do
coronavírus. Então, eu não posso por uma conveniência, de um assunto ou outro,
decidir sozinho isso. Eu tenho que dividir com todos que estão preocupados com
o coronavírus".
Bobagem.
Ou desculpa esfarrapada para não julgar o colega e empurrar o processo com a
barriga como sempre se fez com casos de parlamentares encrencados. Funciona
como máfia ou cartel, onde um membro defende o outro em favor da impunidade de
todos.
O
Senado opera muito bem remotamente. Aliás, o Congresso trabalha bem de maneira
remota. As duas Casas aprovaram por videoconferência inúmeros projetos ao longo
dos últimos seis meses, e em sessão conjunta votaram até mesmo emendas à
Constituição, como a que mudou a data das eleições deste ano, a que instituiu
as regras para o enfrentamento da pandemia, e até mesmo uma de natureza mais
corriqueira, a que mexeu com o ICMS.
Está
claro que não havia razão para se dar licença ao Conselho de Ética e a outras
comissões. Aliás, muitas ações parlamentares não foram tomadas sob a alegação
de que o distanciamento social impediria o seu andamento. Foi com essa desculpa
que o deputado Rodrigo Maia sentou em cima de mais de 30 pedidos de impeachment
contra Bolsonaro enquanto o presidente afrontava a democracia, insultava
ministros do Supremo e a própria Corte, e participava de atos pelo fechamento
do Congresso e do STF, ameaçando até mesmo dar um golpe.
No
caso do dinheiro nas nádegas, Alcolumbre fez exatamente o que faria Renan Calheiros
se estivesse em seu lugar. Retardou o seu andamento. O presidente do Senado
marcou uma reunião para daqui a duas semanas discutir com a Mesa quando será
oportuno reabrir o Conselho de Ética. E esta é a melhor prova de que
dificilmente as coisas melhoram no Congresso. Por isso, aliás, desde março
convenientemente não anda o processo movido contra um dos filhos do presidente
da República.
O
processo das rachadinhas do senador Flávio Bolsonaro dorme no escurinho do
conselho. O zero mais velho também deveria ser ouvido por envolvimento com
milícia, lavagem de dinheiro e contratação de funcionários fantasmas. Uma farra
de falcatruas que repousa tranquilamente sem ser investigada. O presidente do
conselho, senador Jayme Campos, bem que tentou retomar os casos, mas desde
junho vem pedindo inutilmente a volta ao trabalho.
Com
a ética licenciada, o senador da cueca se afastou voluntariamente por 120 dias
e seu lugar será ocupado pelo filho suplente. Por isso, enganou-se também o
ministro do Supremo Luís Roberto Barroso, que suspendeu o afastamento de Chico
determinado anteriormente por entender que fora do cargo ele não exercerá
pressão sobre os colegas. Na verdade, nem precisava, dado o corporativismo da
casa. Ainda assim, ele sai mas deixa o filho, que fará a pressão em seu nome.
Por
ora, está funcionando com Chico como funciona com outros parlamentares. Tem
gente que até aceita uma punição, desde que seja nos seus termos. Lembra Pablo
Escobar. Em 1991, o maior narcotraficante da história entregou-se às
autoridades colombianas depois de atendidas todas as suas reivindicações. Até
mesmo a cadeia onde cumpriria a pena foi construída por ele e guarnecida por
seu homens. La Catedral era uma espécie de hotel onde Escobar fazia festas e
recebia amigos, parentes, prostitutas e os traficantes que trabalhavam para o
seu cartel.
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