Aprovação
para STF e guerra da vacina mostram como presidente se equilibra entre dois
grupos
A
quarta-feira mostrou a cara do novo núcleo político que sustenta Jair
Bolsonaro. Pela manhã, o presidente abasteceu a ala ideológica do governo e
vetou o acordo para comprar a vacina chinesa contra a Covid-19. Depois, ele
contou com a boa vontade do centrão para aprovar
o nome de seu indicado para o STF.
Ainda
que muita gente prefira acreditar que Bolsonaro se tornou um presidente
moderado ao abraçar os velhos caciques, está cada vez mais claro que o governo
se equilibra numa aliança entre as cortesias da política tradicional e o
radicalismo que o projetou para a fama.
Desde
que deu início à reforma de sua coalizão e parou de xingar o Congresso, o
presidente descobre aos poucos até onde pode ir para manter o apoio desses dois
grupos. Se acha que chegou longe demais, ele
sempre pode entregar um cargo ao centrão ou lançar uma nova teoria
conspiratória nas redes.
A
primeira etapa da refundação desse pacto foi concluída no confortável processo
de aprovação de Kassio Nunes para o Supremo. Embora o indicado de Bolsonaro
tenha recebido o aval de governistas e oposicionistas, as maiores amabilidades
partiram dos chefes do centrão. A certa altura, o novo ministro se disse
emocionado com as palavras de Ciro Nogueira, presidente do PP.
Seria
um dia amargo para os apoiadores que acusavam Bolsonaro de traição na escolha
daquele juiz para o STF, mas eles não foram esquecidos. Ao anular o acordo para
a distribuição da CoronaVac, o presidente deu dois presentes a esse
grupo: alimentou
seus delírios antichineses e desgastou um ministro da ala militar,
que disputa espaço com o núcleo ideológico do governo.
Bolsonaro trabalha pela união porque enxerga benefícios nessa sociedade. A manutenção dos laços com sua antiga base política preserva o vigor de uma militância que é útil ao presidente nos embates com adversários. Já o vínculo com o centrão blinda seus aliados e protege o governo de investidas que poderiam derrubá-lo do cargo.
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