Durou
pouco a ilusão de que o governo deixaria a saúde passar à frente da
politicagem. Na terça-feira, o ministro Eduardo Pazuello anunciou a compra de
46 milhões de doses da vacina desenvolvida pela Sinovac e pelo Instituto
Butantan. Menos de 24 horas depois, o capitão desautorizou o general.
Eduardo
Pazuello havia sido taxativo. “A vacina do Butantan será a vacina do Brasil”,
afirmou. Ao ler a declaração nos jornais, Jair Bolsonaro metralhou o próprio
ministro. “Alerto que não compraremos vacina da China”, escreveu, em mensagem a
aliados.
Nas
redes sociais, o presidente chamou a Coronavac de “vacina chinesa de João
Doria”. O ataque uniu duas obsessões bolsonaristas: a paranoia com a China e a
ideia fixa com o governador de São Paulo.
Para
agradar seus radicais, Bolsonaro imita Donald Trump, que chama o coronavírus de
“praga chinesa”. A macaquice ignora uma diferença sensível. Washington trava
uma disputa por hegemonia com Pequim, enquanto Brasília só tem a perder ao
provocar seu maior parceiro comercial.
Com
Doria, o problema é a disputa de 2022. Em campanha antecipada à reeleição, o presidente
vê o ex-aliado como um adversário em potencial. Por isso aproveita qualquer
chance de alvejá-lo, mesmo que isso signifique atentar contra a saúde pública.
Ao
tratorar a Coronavac, Bolsonaro também atropelou Pazuello. O paraquedista nem
pode reclamar da sorte. Ele foi escolhido para isso mesmo: bater continência e
cumprir as ordens do chefe.
Ao
assumir a pasta, o general se sujeitou a receitar cloroquina aos doentes. Em
seguida, comandou uma operação para maquiar dados oficiais. Numa coincidência infeliz,
ele foi humilhado pelo chefe no momento em que está fora de combate. Depois de
cumprir muitas agendas sem máscara, o ministro foi diagnosticado com a Covid.
Enquanto Bolsonaro insiste em politizar a pandemia, o vírus continua a matar brasileiros. Ontem o país ultrapassou a marca de 155 mil vidas perdidas. Para nosso azar, não há vacina contra a insensatez.
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