Em
2001, Antonio Carlos Magalhães foi acusado de ordenar a violação do painel
eletrônico do Senado. As provas eram fartas, e o Conselho de Ética aprovou
relatório favorável à cassação do velho político baiano. Antes que o plenário
confirmasse a pena, ele renunciou. O mandato ficou com seu primeiro suplente, o
empresário ACM Júnior.
“Tenho
a responsabilidade de ser filho do melhor e maior político brasileiro”,
discursou o herdeiro ao estrear na tribuna. Na véspera da posse, ele disse que
sua missão era “honrar” o patriarca. “Tomarei as atitudes em conjunto com meu
pai”, afirmou
Dezenove
anos depois, a manobra se repete em Brasília. Flagrado com dinheiro na cueca, o
senador Chico Rodrigues se licenciou ontem do cargo. Deixou a cadeira para
Pedro Arthur Rodrigues, seu filho mais velho, também filiado ao DEM.
Foi
uma jogada ensaiada. Num acordão com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o
roraimense saiu de cena para aliviar a pressão sobre os colegas. A ideia é que
ele se esconda dos holofotes até fevereiro. Se tiver sorte, ninguém se lembrará
do caso quando a licença acabar. Enquanto isso, seu gabinete ficará sob os
cuidados do primogênito.
A
grana malocada “entre as nádegas” não é a única obscenidade do caso de
Rodrigues. A substituição do pai pelo filho também contribui para desmoralizar
o Senado. Mostra que os mandatos continuam a ser tratados como capitanias
hereditárias.
A
figura do suplente de senador é uma antiga aberração da política brasileira.
Distorce a ideia de representação popular e beneficia políticos e empresários
sem votos. Alguns titulares entregam a suplência ao financiador da campanha.
Outros mantêm a chapa em família: indicam o pai, o filho ou a mulher, caso do
emedebista Eduardo Braga.
Ontem o senador Rodrigues disse que está sendo “massacrado”, “ridicularizado” e “humilhado”. “Por trás desse broche de senador, há um ser humano”, choramingou. Faltou explicar o dinheiro que estava por trás daquela cueca.
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