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O Globo
O
combate à Covid-19 continua sendo politizado pelos agentes públicos, sendo que,
antes mesmo de a vacina chegar, já se discute se ela será obrigatória. Os dois
contendores principais continuam sendo o presidente Jair Bolsonaro e o
governador de São Paulo João Dória, já antecipando a eleição presidencial de
2022, onde um tentará a reeleição, e o outro aparece como oponente forte, à
frente do mais rico Estado, que pretende se descolar da performance econômica
do país para tornar-se alternativa visível.
A disputa mais ridícula encerrou-se ontem, quando o ministério da Saúde
anunciou que comprará 46 milhões de doses da vacina coronavac, desenvolvida
pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantã. Duas
dificuldades emperraram a decisão anunciada ontem: a vacina ser chinesa, e o
governador João Dória ter sido o responsável pelo acordo com o Instituto
Butantã.
Foi preciso que governadores pressionassem o governo para que essa vacina
entrasse no plano nacional de imunização, que vai comprar mais milhões de doses
de diversas outras vacinas, como a do laboratório AstraZeneca que já garantiu
100 milhões de doses da vacina desenvolvida com a Universidade de Oxford. No
Brasil, ela deverá ser produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com a
previsão de 165 milhões de doses durante o segundo semestre de 2021.
O país tem ainda outros 40 milhões de doses garantidas por integrar iniciativa
da Organização Mundial da Saúde (OMS) que reúne diversos países. Outra disputa
já se apresentou, essa sobre a obrigatoriedade da vacinação pública. O
governador João Dória se antecipou anunciando que em São Paulo será
obrigatória, mas seu candidato a Prefeito, Bruno Covas, disse que isso não será
necessário, pois as campanhas de vacinação são suficientes para fazer a
população se mobilizar.
Isso porque o candidato de Bolsonaro à Prefeitura paulistana, Celso Russomano,
já havia anunciado que é contra a vacinação compulsória, pegando carona na fala
do presidente. O ministério da Saúde levou em conta a orientação da Organização
Panamericana da Saúde (Opas), segundo a qual a vacinação de metade da população
pode ser suficiente para a imunidade de rebanho.
Interessante é que a Opas foi a organização que apoiou o programa Mais Médicos
nos governos petistas, que trouxe médicos cubanos para o Brasil. Bolsonaro e
seus aliados criticaram a Opas como uma organização esquerdista, mas agora se
utilizam dela para não tornar a vacinação obrigatória.
Doria não insistiu mais no assunto, e tudo indica que a vacinação contra
a Covid-19 só será obrigatória se o Congresso resolver regulamentar a lei da
pandemia, que prevê a vacinação entre os itens necessários para contê-la. Ela
foi assinada no início da gestão do ex-ministro da Saúde Luiz Mandetta, mas a
situação já não tem a gravidade do começo.
É pouco provável que o Congresso aprove a obrigatoriedade da vacinação, a
não ser que tenhamos uma segunda onda da Covid, como está acontecendo em partes
da Europa e dos Estados Unidos. O Programa Nacional de Imunização (PNI) já prevê
vacinas obrigatórias para crianças e adolescentes, de acordo com o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), como a contra a tuberculose, hepatite B,
poliomielite, etc... Os pais que se recusarem a levar os filhos para se
imunizarem podem sofrer sanções.
A melhora da pandemia no Brasil permite que o governo insista na sua tese de
que é preciso respeitar a individualidade do cidadão, o que na teoria é bonito,
mas na prática pode provocar o descontrole da situação. O uso de máscara, por
exemplo, que é obrigatório em quase todo o território nacional, é desestimulado
pelo próprio Bolsonaro, que faz questão de aparecer em público sem ela, e
confraterniza desprotegido com seus seguidores, fazendo mal a ele e aos que o
cercam.
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