Elas
seguem na lógica de que podemos definir o destino de alguém com base em suas
características fenotípicas
Há
dois caminhos principais para justificar as cotas raciais. Pelo primeiro, elas
seriam uma forma de reparar injustiças
históricas. É preciso ser estatística e historiograficamente cego
para não ver que existe racismo
estrutural no Brasil e que a escravidão tem muito a ver com
isso. Uma compensação aos descendentes de escravos na forma de cotas seria,
então, uma forma de fazer justiça.
Não
gosto muito dessa justificativa. O argumento central contra ela é que há um
considerável descompasso entre o universo de prejudicados pela injustiça
original e o de beneficiados pela política reparatória. As cotas, afinal,
favorecem só um número pequeno dos descendentes de escravos, em geral os com
mais instrução e que menos precisariam de impulso. Os negros mais necessitados,
aqueles que não completam o ensino fundamental, lotam as cadeias e vão parar
precocemente nos cemitérios, nada ganham com elas.
No
polo oposto, o branco preterido no vestibular não é necessariamente um descendente
de traficantes de escravos. Para a ideia de reparação fazer sentido, temos de
apelar à noção de culpa coletiva, que é bem problemática.
O
outro caminho me parece melhor. Por ele, as cotas não se justificam pelo
passado, mas pelo futuro. Há um bom corpo de pesquisas mostrando que, quando
diferentes pessoas, com diferentes backgrounds e perspectivas, se põem a
trabalhar sobre os mesmos problemas, as soluções encontradas tendem a ser
melhores. O bacana aqui é que a racionalidade das cotas também salta do indivíduo
para a sociedade, e a culpa coletiva dá lugar à responsabilidade social.
Considero essa justificativa aceitável, mas devo confessar que não sou um grande fã de cotas raciais. Por mais que douremos a pílula, elas seguem na lógica de que podemos definir o destino de uma pessoa com base em suas características fenotípicas, que é justamente o que torna o racismo um problema moral.
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