Sem plano sequer para alongar a retomada, o País parece condenado a crescer menos que 3%
O Brasil, vejam só, deixou de ser o país do futuro. Que futuro pode ter um país emergente incapaz de crescer 3% ao ano? Esqueçam Stefan Zweig. Pensem num ministro da Educação preocupado com a vida sexual dos estudantes, num ministro do Meio Ambiente avesso à proteção das florestas, num ministro da Economia empenhado em recriar uma aberração tributária, a CPMF. Considerem um presidente negacionista, propagandista da cloroquina e centrado em interesses pessoais e familiares, com destaque para a reeleição. Quem se importa, em Brasília, com o miserável crescimento projetado para o médio e o longo prazos, nada além de 2,5% ao ano?
Bolas
de cristal muito consultadas preveem mediocridade, ou algo pior que isso, no
médio e no longo prazos. Por enquanto, há algum dinamismo. Passado o grande
choque, os negócios voltaram a mover-se, como em todo o mundo. Em 2021 o
produto interno bruto (PIB) crescerá 3,5%, segundo a mediana das projeções do
mercado. A expansão ficará em 2,8%, de acordo com estimativa recente do Fundo
Monetário Internacional (FMI). A partir daí o cenário fica menos claro, mais
inquietante e, principalmente, mais estimulante para uma avaliação das
condições do Brasil.
O
PIB crescerá 2,3% em 2022, segundo o FMI, e apenas 2,2% em cada um dos três
anos seguintes. Pela projeção do mercado, captada na pesquisa Focus, do Banco
Central, a expansão será de 2,5% ao ano em 2022 e 2023. Detalhe relevante: essa
taxa de 2,5% aparece há tempos, nessas pesquisas, como estimativa para o médio
prazo. As projeções do FMI têm a mesma característica: números baixos, na casa
dos 2%, quando se ultrapassa o horizonte de um ou dois anos. Não se trata de
preguiça dos analistas. O problema está na economia brasileira. Os economistas
do mercado e das entidades multilaterais são inocentes.
Para
olhar um pouco mais longe, os economistas levam em conta o potencial de
crescimento da economia. Esse potencial é determinado por vários fatores, com
destaque para os investimentos em capital fixo (máquinas, equipamentos e
construções), em capital humano, em conhecimento (ciência e tecnologia) e em
inovação. Fatores institucionais e de ambiente de negócios, como tributação,
segurança jurídica, burocracia e integração internacional, também são
importantes. O Brasil tem ido mal, há muitos anos, em todos esses quesitos.
Só
o investimento em capital fixo é mostrado de forma explícita nas contas
nacionais brasileiras. Na maior parte dos últimos 20 anos esse investimento foi
equivalente a menos de 20% do PIB, embora a meta oficial tenha sido, quase
sempre, uma taxa de pelo menos 24%. Além disso, boa parte do investimento foi
pouco produtiva.
Muitas
obras públicas ficaram inacabadas, outras consumiram tempo demasiado, o
superfaturamento foi frequente e houve amplo desperdício. A contribuição dessas
obras para a capacidade produtiva acabou sendo muito prejudicada. O setor
privado investiu mais que o governamental, mas o protecionismo e outros fatores
limitaram os incentivos à busca de eficiência, inovação e competitividade.
A
indústria de transformação começou a perder vigor alguns anos antes da recessão
de 2015-2016. Incentivos fiscais e financeiros mal concebidos, somados à corrupção,
favoreceram grupos e ramos empresariais, mas a maior parte do setor escorregou
ladeira abaixo até chegar a pandemia. A equipe do presidente Jair Bolsonaro
jamais apresentou um diagnóstico sério dos problemas da economia brasileira.
Por isso mesmo nunca propôs um plano de modernização, dinamização e retorno a
um crescimento aceitável para um país emergente.
A
única reforma importante aprovada desde o ano passado, a da Previdência, estava
madura no fim do mandato do presidente Michel Temer. Ainda na gestão Temer as
normas trabalhistas foram modernizadas e flexibilizadas, sem eliminação de
direitos. Também nesse período foi criado o teto de gastos. Hoje, além de pouco
avançar na pauta de reformas, o ministro da Economia insiste em objetivos
modestos, como a desoneração da folha salarial.
Essa
desoneração pode evitar demissões e preservar empregos, mas é insuficiente para
ampliar a oferta de vagas. Isso foi comprovado na gestão da presidente Dilma
Rousseff, quando mais de 50 setores foram contemplados com a redução de
encargos. Desse conjunto sobraram 17 setores – com 6 milhões de trabalhadores,
segundo se estima. O mais prudente, agora, é preservar esses benefícios pelo
menos por um ano, por causa das condições da economia.
Seria
bom se a equipe econômica notasse a diferença entre evitar demissões e gerar
empregos, objetivos tão bons quanto distintos. Geração de empregos depende, em
primeiro lugar, da atividade e das perspectivas de crescimento. Não se moverá a
economia eliminando direitos trabalhistas, recriando um monstrengo tributário e
gastando energia para subordinar o Orçamento de 2021 aos interesses eleitorais
do presidente. Planejamento para o longo prazo vai muito além disso, mas essa
noção parece estranha aos condutores da política econômica.
*Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário