Por
Alvaro Gribel (interino)
Se
a palavra do ministro Paulo Guedes ainda vale pelo governo, o programa Renda
Cidadã voltou à casa zero. O ministro da Economia mudou sua agenda em cima da
hora ontem à tarde para participar da divulgação dos dados do Caged, mas sobre
o mercado de trabalho pouco falou e terceirizou para a área técnica. Ele
aproveitou o espaço para disparar recados a aliados e ao próprio presidente
Bolsonaro e ainda alimentou bate-boca com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Disse que havia rumores de que Maia interditara as privatizações após acordo
com partidos de esquerda e que o novo programa social não pode ser financiado
por “puxadinhos”.
Guedes
se recusou a chamar o programa pelo nome Renda Cidadã e por três vezes falou em
Renda Brasil, que havia sido proibido por Bolsonaro. Ao dizer que ele precisa
ser a unificação de 27 projetos sociais, o ministro voltou à ideia inicial para
o seu financiamento, que na visão do presidente significa tirar do pobre para
dar ao paupérrimo. No mercado financeiro, a interpretação foi de que o ministro
elevou o tom para demonstrar que não vai compactuar com pedaladas e
contabilidade criativa. Para muitos investidores, a fala foi bem recebida, e
houve quem entendesse que se o governo seguir por esse caminho Guedes deixará o
cargo.
O
ministro reconheceu que houve estudo sobre os gastos com precatórios, mas
porque, segundo ele, esse tipo de despesa tem crescido muito nos últimos anos.
Afirmou que em momento algum o governo “deixará de honrar” seus compromissos,
muito menos uma dívida que já transitou em julgado. Em outras palavras, disse
que a medida seria um calote, rebatendo o relator da proposta, senador Márcio
Bittar (MDB-AC), que chamou de “hipócritas” todos os que pensavam dessa forma.
Em
seguida, Rodrigo Maia disse que Guedes está desequilibrado. No dia anterior,
ele próprio acusara o ministro de interditar o andamento da reforma tributária.
Sobre as privatizações, os fatos parecem estar a favor do deputado, já que o
veto maior ao programa vem do próprio presidente Bolsonaro, que desde a
campanha eleitoral excluiu as maiores estatais da lista de empresas vendáveis.
Ao
fim e ao cabo, o novo programa social não tem nome, fonte de custeio, e o
governo continua como sempre esteve: perdido em suas brigas internas.
O
valor do auxílio
O gráfico mostra o impacto da crise sobre os rendimentos do trabalho. Pelos dados divulgados ontem pelo IBGE, e compilados pelo Iedi, houve uma queda de 13,3% em julho, sobre o mesmo mês do ano passado. “Tomados os rendimentos efetivamente recebidos, que refletem melhor o choque provocado pela pandemia, a massa de R$ 185,6 bilhões é a menor da série histórica da Pnad Contínua, iniciada em 2012”, disse o Iedi. Esse dado exclui o que foi pago pelo governo no auxílio emergencial, e reforça a importância do benefício para garantir o consumo de muitas famílias.
Dois
lados do emprego
Os economistas Bruno Ottoni e Tiago Barreira, do Ibre/FGV, juntaram três séries de desemprego e concluíram que a taxa de desocupação do país em julho foi a maior desde 1992, ou seja, em quase 30 anos. A Pnad Contínua, como se sabe, começou em 2012, mas os economistas adaptaram os dados à Pnad Anual e também à PME, que possuem séries mais antigas. “É uma constatação preocupante, e a tendência ainda é o desemprego aumentar nos próximos meses, porque muita gente que perdeu trabalho ainda não voltou a procurar”, disse Ottoni. No mercado formal, houve criação de quase 250 mil vagas em agosto, segundo o Caged. O governo comemorou e, na visão de Ottoni, o Programa de Manutenção do Emprego ajudou de fato a evitar um quadro pior. “Ainda assim, estamos com uma perda de mais de 800 mil vagas de carteira assinada desde o início da crise”, lembrou.
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